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Assista ao trailer do candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro "A Fita Branca", do diretor alemão Michael Haneke 

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INOCÊNCIA PERDIDA
Em “A Fita Branca” as crianças se tornam algozes

Um filme de época, rodado em preto e branco, com elenco desconhecido e baixo orçamento tem pouca munição para enfrentar as milionárias produções americanas. Mas é com esses tímidos predicados que o longa-metragem alemão “A Fita Branca” vem roubando a atenção em todos os países nos quais é exibido e seu destino não deve ser diferente no Brasil, onde estreia na sexta-feira 12. Essa obra do diretor alemão Michael Haneke tem ganhado destaque por outro elemento, tão caro ao cinema: a capacidade de refletir com contundência a realidade social. Primeiro ele causou rebuliço no Festival de Cannes, na França, quando recebeu o prêmio máximo, a Palma de Ouro. Depois estendeu seu prestígio aos EUA, onde conquistou no mês passado o Globo de Ouro e foi indicado, na terça-feira 2, ao Oscar de melhor filme estrangeiro, saindo como grande favorito. Considerável parte da polêmica causada pelo filme vem da sua visão sobre estranhos acontecimentos que ocorreram em um pequeno vilarejo da Alemanha nos anos que antecederam a Primeira Guerra  Mundial. A série de mortes que assombrou a população, adepta do protestantismo, enseja uma leitura imediata de que o diretor estaria oferecendo uma versão mais psicológica para as origens do nazismo.

O cineasta apressou-se em negar essa primeira impressão, mas polemizou ainda mais. De perfil contestador, Haneke argumentou que a realidade mostrada na sua obra poderia ser aplicada também ao fascismo da esquerda ou ao fanatismo religioso, ampliando o alcance do enredo para os dias de hoje. “Essa mesma história poderia se referir aos radicais islâmicos”, diz ele. Ao acompanhar o surgimento da barbárie numa pequena comunidade, “A Fita Branca” mostra como a irracionalidade pode ser usada para a manutenção da ordem e como indivíduos e grupos toleram esses atos violentos. Parte do incômodo gerado pelo filme vem da reprodução dessa ideologia no universo infantil. Na história, as crianças surgem como vítimas e também algozes. Doutrinadas com ideais fundados na violência e na punição como formas legítimas de controle, elas não apenas sofrem os castigos como os reproduzem sem pudores – e os praticam com mais crueldade que os adultos. Seria cômodo imaginar que essa realidade se referisse apenas ao nazismo, mas Haneke parece não gostar dessa panaceia. A forma como foi conduzida a cruzada americana contra o terror ou a crueza com que se faz “justiça com as próprias mãos” nas favelas brasileiras servem para constatar, com um frio na espinha, que a aldeia filmada por Haneke é global.

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