No Brasil, elogiar as formas arredondadas das mulheres é um esporte nacional. Beldades curvilíneas como Juliana Paes e Cleo Pires se destacam no imaginário masculino. Mesmo no mundo fashion houve um período em que a exuberância esteve em alta, com Luiza Brunet dominando a moda. Com o tempo, a silhueta das modelos se afinou, fazendo com que as passarelas fossem dominadas por tops superesbeltas. Mas esse padrão de magreza extrema – ou “tamanho zero”, como se diz nos bastidores – pode estar com os dias contados.

Madri causou espanto ao proibir modelos com índice de massa corpórea (IMC) – o peso dividido pela altura ao quadrado – inferior a 18 (algo como 57 quilos para uma mulher de 1,80m) na Pasarela Cibeles, sua semana de moda. Em poucos dias, a decisão repercutiu e foi aplaudida pela secretária britânica de Cultura, Tessa Jowell, para quem o conceito de beleza ligado à extrema magreza tem prejudicado a saúde e a auto-estima das adolescentes. Muitas sofrem de anorexia e bulimia, transtornos alimentares que podem levar à morte. Jowell pediu uma medida semelhante para a Semana da Moda de Londres. Mas a proposta não foi acatada. “Uma certa polêmica pode ser útil, mas esta não é a melhor maneira de promover a discussão”, declarou o presidente do Conselho Britânico de Moda, Stuart Rose. No evento, a inglesa Lily Cole, 17 anos e 1,78m, atraiu a atenção por ter IMC 14, o que inviabilizaria sua participação no Pasarela Cibeles.

Em Madri, os estilistas tiveram de improvisar. Um deles, Antonio Pernas, substituiu 18 profissionais. Mesmo assim, aprovou a medida. “Queremos projetar uma imagem saudável.” Esse tem sido o tom. A prefeita de Milão, Letizia Moratti, avisou que proibirá supermagras na semana de moda da cidade, caso não se encontre outra solução para as modelos de “aparência doentia”. Na Índia, o ministro da Saúde, Anbumani Ramadoss, aplaudiu a proibição. Segundo ele, as garotas indianas desenvolvem osteoporose, enfermidade que afeta a densidade óssea, por se espelharem nas muito delgadas. Resta saber o que acontecerá na passarela mais badalada do circuito, a de Paris.

Por aqui, o diretor da agência de modelos Mega, Eli Hadid, acredita que a discussão tem de acontecer no Brasil. Isso não significa que as tops terão de ser gordas. “Mulheres como Adriana Lima e Ana Claudia Michels têm corpos lindos”, explica. Para a vice-presidente da Ford Models, Denise Céspedes, as brasileiras são magras sem ter aparência de doente. “A gente não pesa, só vê as medidas. Quando uma delas tem quadril inferior a 90 cm, pedimos que engorde para servir nas roupas”, conta. Isso ocorre, normalmente, com as meninas que viraram modelos. Para o estilista Carlos Tufvesson, o padrão “quadril 90” facilita o ajuste das roupas em cima da hora. “Proibir com base no IMC é radicalismo. Não vejo magreza como sinônimo de doença. Depende muito do biotipo”, afirma. Em geral, o amadurecimento ajuda a encorpar as jovens, conferindo um ar mais saudável a elas. É isso o que todos desejam.

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