Em 2002, quando ficou claro que Lula seria eleito presidente, o investidor George Soros criou o mantra “Serra ou caos”. Em Wall Street, o banco Goldman Sachs lançou o “lulômetro”, que elevava o risco-Brasil a cada alta do candidato petista nas pesquisas. Só bola fora. Decorridos seis anos, a economia melhorou, os ventos internacionais ajudaram e o País se tornou investment grade. Seria tudo perfeito, não fosse um único problema: o favorito para a disputa de 2010, com 38% das intenções de voto, é José Serra.

Mas o governador de São Paulo representa um risco? A julgar pelo que ele tem feito à frente do Palácio dos Bandeirantes, sim. E o exemplo mais flagrante é o da Nossa Caixa. Logo que assumiu o mandato, Serra obrigou o banco estadual, que tem ações negociadas em bolsa, a pagar R$ 2 bilhões pela folha dos servidores. Foi um preço tão absurdo que as ações da Nossa Caixa chegaram a desabar quase 40%. Para fazer caixa, Serra tungou os acionistas privados do banco. Agora, apressado para levantar ainda mais dinheiro, ele quer vendê-lo de forma direta ao Banco do Brasil. Isso atropela a lei, que exige transparência e concorrência na venda de ativos públicos.

De olho em 2010, o governador colocou a agenda de candidato
à frente da lei e tenta vender, como se fosse seu, um bem público

Serra diz que a operação direta irá gerar mais recursos e que o dinheiro será aplicado em obras de infra-estrutura. Além disso, alega que a privatização poderia enfrentar resistências dos funcionários e dos deputados estaduais. São argumentos falaciosos que não ficam de pé por cinco minutos. A verdade, nua e crua, é que Serra colocou sua agenda de candidato à frente do interesse público. Como ainda não inaugurou uma única grande obra em São Paulo, sabe que suas chances de se eleger em 2010 irão evaporar se ele não tiver pontes, estradas e estações de metrô a apresentar ao eleitorado. O detalhe é que a Nossa Caixa não é um patrimônio particular do governador. Pertence ao povo de São Paulo e aos seus acionistas, que têm direito a receber o maior valor possível pelo ativo. Para isso, nada melhor do que um leilão aberto e transparente, como o do Banespa, que foi vendido com ágio de 281% ao Santander em 2000.

Se a operação da Nossa Caixa estivesse sendo proposta pelo PT, seria tratada, no mínimo, como suspeita. Conduzida por José Serra, que tem um cordão de isolamento, poderá até ser realizada, sem maiores traumas. Mas se os pragmáticos investidores do Brasil e do mundo tivessem hoje de optar entre uma vitória de Serra em 2010 ou um terceiro mandato de Lula, é muito provável que ficassem com a segunda alternativa. “Lula ou caos”, diriam alguns. Quem sabe, seria o caso até de propor a criação de um “serrômetro”.