chamada.jpg
FORÇA
Temer conseguiu o apoio de Sarney e Renan para ser reeleito presidente do PMDB

 

selo.jpg

Uma das características mais tradicionais do PMDB é a divisão de suas lideranças nacionais. Durante a semana, porém, o partido usou a união como arma para responder no mesmo tom às pressões do PT. Diante da tentativa de setores do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de impor o nome do candidato da sigla a vicepresidente na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o PMDB reagiu e falou grosso. Na contraofensiva, reuniu as alas da Câmara e do Senado e fortaleceu seu principal candidato a vice, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), ao antecipar para 6 de fevereiro a convenção para reelegê- lo presidente nacional do partido. A chapa será única e terá o apoio dos senadores Renan Calheiros (PMDBAL) e José Sarney (PMDB-AP), que antes lideravam a dissidência interna. O recado é claro: mais coeso do que nunca, o PMDB não quer mais saber de cobrar a fatura somente depois das eleições. Deseja participar do próximo governo desde já. Do contrário, ameaça ficar fora da aliança para eleger Dilma. “A recondução do presidente Temer é fundamental para trazer o conjunto do PMDB para a campanha numa aliança com a ministra Dilma e dar estabilidade no fim do governo”, afirmou o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS). Em meio à troca de farpas com o PT, o partido escolheu como alvo dois petistas pesos-pesados: o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o exministro José Dirceu, integrante do novo Diretório Nacional do partido, que tomará posse neste mês. Os  dirigentes peemedebistas atribuem a eles a articulação para barrar a indicação de Temer como candidato a vice, sob o argumento de que o deputado paulista não agrega votos. “Não há dúvida de que existe uma campanha orquestrada de líderes poderosos do PT para vetar Temer”, disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

Na terça-feira 26, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), foi mais explícito. “Falei com o PT que esse tipo de discussão pela imprensa não é boa para a aliança, mas eles alegaram que essa não é a posição dos petistas, e sim do José Dirceu.” A referência a Dirceu não foi por acaso. No último fim de semana, na reunião da principal corrente do PT, a Construindo um Novo Brasil, em São Roque (SP), Dirceu defendeu novamente a ideia da lista tríplice para a escolha do representante do PMDB na chapa. Insistiu que a candidata precisa ser consultada antes de batido o martelo sobre o vice. “Quem disse que Dilma não aceita Temer ou que os partidos aliados não querem apoiá-lo? Isso é pura manobra diversionista”, defendeu-se Dirceu em seu blog. Na quarta-feira 27, em encontro na residência oficial da Câmara, foi a vez de os líderes do PMDB centrarem fogo em Tarso Genro. “o tarso foi um dos artífices dos ataques a temer. ele quer Ciro de vice”, disse um importante dirigente do pmdB. Mas o que mais deixou irritada a cúpula do PMDB foi a notícia de que setores do PT teriam feito circular no Congresso dossiês contendo munição contra os dois principais candidatos do partido a vice de Dilma: além de Temer, o ministro das Comunicações, Hélio Costa. “Basta colocar a cabeça de fora que essas coisas surgem”, reconheceu um expoente do PMDB. Contra Temer, pesaria um material da Polícia Federal na Operação  Castelo de Areia, que o acusou de ter  recebido R$ 410 mil da construtoraCamargo Corrêa entre 1996 e 1998. Diante dos ataques abaixo da linha da cintura, Temer reagiu em conversa com aliados na segunda-feira 25. “Não vou admitir essa campanha contra mim pelos  jornais”, disse. Hélio Costa também se apressou em dar declarações dizendo que Temer é o nome de consenso no PMDB para a dobradinha com Dilma. “Nós todos apoiamos com muito entusiasmo o que o Temer representa e esperamos que ele possa vir a formar chapa com a ministra Dilma”, afirmou Costa. O presidente Lula disse a mais de um interlocutor que, se tivesse escolha, seu preferido para a dobradinha com Dilma seria o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

img.jpg

Na visão de Lula, Meirelles atuaria para dar tranquilidade ao mercado financeiro. Mas Lula sabe que Meirelles, cristãonovo no PMDB, dificilmente passará pelo crivo do partido. E reconhece que não pode esticar demais a corda. “Se o PMDB quiser que seja o Temer, será ele”, disse Lula em conversa com o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra. O problema é que o PT não está acostumado com um PMDB que se impõe. Nos últimos anos, aprendeu a lidar com um PMDB que cede. Por isso, a relação entre os dois partidos ainda é tensa. Com a resposta dura de Temer e a enquadrada de Lula, o PT se viu obrigado a recuar. Nos bastidores, no entanto, a discussão continua intensa e pode deixar sequelas se o tempo não for capaz de curar as feridas expostas durante a briga envolvendo as duas legendas. “Tiroteio e bala perdida em política sempre vão ocorrer, mas temos de criar contenções”, admitiu o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). O termômetro dessa relação dependerá dos lances que estão por vir.