Foram 129 dias. No Marriot de Tegucigalpa a conta ficaria em US$ 18 mil. Numa opção econômica, a do apart-hotel Humuya Inn, daria para fechar por US$ 11 mil, com direito ao café continental. Colocando no papel os gastos com comida, frigobar, lavanderia, chamadas telefônicas internacionais para Hugo Chávez e hospedagem de toda a entourage de Manuel Zelaya, afora eventuais danos patrimoniais causados à embaixada brasileira, o custo da aventura do Itamaraty em Honduras não terá saído por menos de US$ 50 mil. Mas Zelaya se foi, na última quarta-feira, sem ter ao menos passado o número do cartão de crédito. Não deu nada em garantia. Partiu para o exílio, pendurando a conta nas costas do Brasil. Quem deve pagá-la? Em primeiro lugar, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que tentou transformar Honduras num palco para seus exercícios de megalomania. Depois dele, Marco Aurélio Garcia, o chanceler “de facto”, que sonhou com mais uma revolução bolivariana na América Central.

E talvez até o presidente Lula devesse entrar na vaquinha, por sua teimosia em não reconhecer as eleições de Honduras, que deram posse a Porfírio Lobo na semana passada. Esperar que essa conta, até pequena diante dos estragos causados à imagem da diplomacia brasileira, venha a ser paga é uma vã ilusão.

O prejuízo é nosso e ninguém tasca. Mas seria melhor que o ex-presidente de Honduras tivesse continuado como hóspede do Brasil. Deveríamos ter dito a ele: “Fique, a casa é sua.” A presença de Zelaya na embaixada nos era útil. Revelava a verdadeira face do novo Itamaraty, expunha seu desejo de intervir numa nação mais fraca e desnudava o nosso chavismo, até então adormecido. Mas Honduras resistiu. E impediu que um presidente golpista, disposto a violar sua constituição, transformasse o país em mais um satélite da Venezuela. A mesma Venezuela que fecha redes de televisão, mata jovens que protestam nas ruas e estimula a criação de milícias. Um exemplo de democracia, apoiado pelo Brasil, e de onde já saíram US$ 93 bilhões desde 2005, segundo o próprio banco central.

Ao lado da esposa, Zelaya deixou a embaixada brasileira dizendo uma frase sucinta: “Volveremos”. Não é verdade. Ele jamais retornará ao poder. O chavismo vive seus últimos dias. A era Celso Amorim também está chegando ao fim. Marco Aurélio Garcia, idem.

E a indigna aventura do Brasil em Tegucigalpa um dia será lembrada apenas como o ponto mais baixo da história do Itamaraty, que cobriria de vergonha o nobre José Maria da Silva Paranhos Júnior, barão do Rio Branco, cuja diplomacia foi erguida sobre um princípio básico: o da não intervenção em questões internas de outros países.