O escritor americano Dan Brown, autor do best seller O código Da Vinci, parece ser, antes de tudo, um homem obcecado por códigos. E não é de hoje. Já em 1998 ele avançava pelo ininteligível universo dos desafios criptográficos, ao escrever Fortaleza digital, livro que só agora, no rastro do sucesso do polêmico Da Vinci e de Anjos e demônios, a editora Sextante lança no mercado nacional (336 págs., R$ 29,90). Curiosamente, embora esteja vivendo sob pressão de seus editores internacionais e da mídia em geral para lançar um novo sucesso, o autor não conseguiu fazer nada de novo desde que resolveu cutucar a Igreja Católica de Roma com teorias esdrúxulas sobre a possível vida matrimonial de Jesus Cristo e o papel de Maria Madalena na construção do cristianismo, tema central do Da Vinci, que vendeu 25 milhões de cópias em dois anos e despertou a ira dos homens do Vaticano. É possível que a pressão provocada pela fama excessiva, que faz com que precise evitar até vôos comerciais, esteja atrapalhando a concentração necessária para a elaboração de seu quinto romance, ainda sem título, mas já anunciado como mais uma aventura do professor de história da religião da Universidade de Harvard, Robert Langdon, herói improvável do Da Vinci. Os fãs cobram mais Dan Brown; os editores – que acabam de renovar o contrato por um valor não revelado, mas certamente milionário – se empenham em manter o apetite dos leitores minimamente controlado com obras anteriores de pouco brilho. Já o autor simplesmente não pode se dar ao luxo de ter uma crise de criatividade, tão frequente entre os escritores que precisam criar um best seller a cada ano. Não é à toa que ele declarou recentemente estar acordando de madrugada para ficar olhando para a tela vazia, à espera da visita das irrequietas musas. Vida dura.

De qualquer maneira, enquanto o sr. Brown não termina seu novo livro, o que
está previsto para no mínimo lá pelo final de 2006, seus leitores podem gastar
algum tempo com seu novo-velho romance que, se perde de longe para Da Vinci
em termos de locações e comparações charmosas, apesar das correrias vertiginosas por uma ensolarada, mas absurda Sevilha, vai com certeza alimentar
a sanha daqueles que já (e, vá lá, não de todo sem razão) desconfiam que todo
www da internet traz embutido um misterioso espião pronto para invadir a
privacidade de cada um de nós, pobres mortais e ingênuos navegadores. Chato
é que o vilão de Fortaleza digital, o indefectível agente da inteligência americana
que se desvia dos valores de honra, pátria e integridade, é previsível desde o
começo da história. E a complicada linguagem com que Brown tenta explicar (?) suas teorias sobre um possível (?) código criptográfico que seria inquebrável e,
por isso mesmo, de altíssimo valor no mercado da arapongagem internacional
só pode conquistar a atenção mesmo dos nerds e hackers mais empedernidos.
O jeito para o leitor leigo é pular as partes incompreensíveis e ler o resto – até porque, no final das contas, não faz a menor diferença.