Uma pesquisa informal entre os funcionários do Instituto Nacional de Cardiologia, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, apontou que a música poderia melhorar o ambiente de trabalho. A idéia foi posta em prática em outubro na Unidade Cardíaca Intensiva (UCI) e depois se estendeu para uma enfermaria. E está produzindo milagres. Em três meses, houve uma queda no uso de calmantes entre os pacientes que variou de 30% a 88%. “É uma experiência-piloto, mas os resultados são tão bons que poderá ser implantada em todo o hospital”, comemora o cardiologista Walter Alves, subchefe da UCI.

Antes de iniciar o projeto, a equipe consultou musicoterapeutas (especialistas que aplicam a música no tratamento de alguns problemas). Os próprios médicos escolhem o repertório, recheado de compositores clássicos, como Wolfgang Amadeus Mozart, Frédéric Chopin e Antonio Vivaldi, além de CDs que reproduzem sons da natureza. O efeito é uma atmosfera de paz. “Alguns pacientes chegaram a pedir canções populares, mas preferimos priorizar melodias tranquilizantes”, afirma Alves. A novidade está tão incorporada que um pequeno cartaz foi posto na entrada da UCI: “Aqui temos música para o coração.”

O diferencial foi aprovado por pacientes e familiares, de acordo com outra pesquisa informal. O empresário José Mário Medeiros, 47 anos, é um dos que aderiram à idéia. Ele chegou ao hospital há duas semanas,
logo após sofrer um infarto agudo. Ao ser atendido por vários médicos ao mesmo tempo, sentiu-se muito nervoso. Mas aos poucos, enquanto a melodia preenchia o ambiente, a aflição baixou. Medeiros percebeu que a mudança tinha a ver com o som ambiente. “Atribuo minha rápida recuperação à música”, diz o empresário, que não precisou recorrer a calmantes.

A chefe de enfermagem da instituição, Lenice Pereira Santos, 45 anos, tem conseguido recuperar sua tranquilidade baiana com auxílio da música. Diariamente, ela elege funcionários para cuidar do som – que toca num volume mais baixo à noite. “Só acredito em tratamento de saúde feito em um ambiente mais humanizado”, sintetiza. A aceitação é tão irrestrita que, quando alguém esquece de trocar os CDs, os pacientes aproveitam para pedir bis. “Já virou tradição”, conta.


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