Está na fase final de desenvolvimento no Instituto do Coração, em São Paulo, o primeiro ventrículo artificial infantil do País. Criado pelos especialistas do Centro de Tecnologia Biomédica do hospital, o aparelho representa uma esperança para as crianças que necessitam de um transplante cardíaco e estão à espera de um coração doado. Neste momento, há três pequenos pacientes nessas condições só na fila do instituto paulista. O equipamento garante aos doentes pelo menos mais um mês de vida até a chegada do órgão. Isso porque ele reproduz as funções cardíacas prejudicadas por doenças como a miocardiopatia dilatada, mal que impede o bombeamento do sangue pelo coração para o resto do corpo.

Existem hoje modelos de ventrículos artificiais para adultos. Para crianças,
há disponíveis apenas os fabricados pela empresa alemã Berlim Heart. Essa escassez de opções se deve basicamente ao fato de que desenvolver um aparelho do gênero para os pequenos é um desafio. “Quando se reduz de tamanho algumas peças, é mais difícil estabilizar determinadas funções”, explica Adolfo Leirner, diretor do Centro de Tecnologia. Um dos obstáculos foi calibrar corretamente o equipamento na velocidade do fluxo sangüíneo necessitada pelas crianças. Ela tem de ser mais alta do que a de adultos. “Se o sangue andar devagar, coagula”, diz Leiner. E, se for muito depressa, as hemácias (células responsáveis pelo transporte de oxigênio) se rompem. O equipamento infantil impulsiona um volume de 15 mililitros de sangue a cada batimento. Há um médio, de 30 mililitros, para crianças maiores. No aparelho para os adultos, o volume é de 60 mililitros. Os médicos aguardam ansiosos a liberação de verbas para dar os últimos acertos no equipamento. “Mas falta esse apoio econômico”, lamenta Miguel Barbero Marcial, diretor de Cirurgia Pediátrica do InCor. Nos cálculos do médico, US$ 250 mil bastariam para tornar o aparelho disponível.