Os filmes de faraoeste jamais serão os mesmos. O cenário que invariavelmente retratava lugares isolados e incomunicáveis está em plena mutação. Desertos, montanhas, vales e depressões onde existem vilarejos que muitas vezes nem têm acesso à luz elétrica já se conectam à rede mundial de computadores. É que uma nova tecnologia chamada Wimax está interligando via satélite os locais mais inacessíveis do planeta. O serviço está sendo implementado principalmente pela gigante americana da informática Intel, que lidera um projeto que já conectou em todo o mundo cerca de 200 localidades a outros meios de comunicação. “Essa, sim, é a grande virada da internet”, diz Elaine Nucci, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Intel na América Latina.

Ao contrário da rede convencional, que usa a infra-estrutura das linhas telefônicas para fazer a conexão com a internet, o Wimax só exige a instalação de uma torre que possa receber os sinais dos satélites para retransmiti-los a notebooks num raio de 50 quilômetros. Como algumas das regiões menos habitadas não são devidamente atendidas pelas empresas de telecomunicação, o Wimax surge como alternativa eficiente e barata para ligá-las à rede global. Nos EUA ele é usado numa área de 800 quilômetros quadrados no deserto próximo a Las Vegas, no Estado do Texas. A British Telecom está realizando testes na zona rural da Irlanda. No Nepal, região mais alta do globo, há vilas que se modernizaram utilizando essa nova tecnologia. A China também inovou oferecendo o sistema para as áreas mais remotas de Pequim. Na África, comunidades em meio ao deserto se beneficiam do Wimax e ganharam acesso à informação proveniente de áreas mais desenvolvidas.

A novidade também chegou a Parintins, no coração da floresta amazônica. A cidade está localizada numa ilha a cerca de 420 quilômetros de Manaus – e, de um local a outro, a viagem de barco dura 18 horas pelo rio Amazonas. Com aproximadamente 100 mil habitantes, grande parte de Parintins não tem energia elétrica. Mas até lá estão conectados via satélite um pronto-socorro, duas escolas públicas, um centro comunitário e a Universidade do Amazonas, que fica em Manaus. Na semana passada, foi implantado o programa de telemedicina, que deu uma injeção na qualidade do atendimento médico oferecido à população. Não falta capacidade profissional aos 32 médicos que trabalham na cidade, a maioria formada pela Universidade de São Paulo e pela Universidade do Amazonas. A possibilidade de acesso à internet, no entanto, melhora o atendimento clínico à medida que fornece recursos para que exames sejam enviados aos grandes
centros do Brasil e até do Exterior.

O governo federal estuda a utilização do novo sistema para cumprir a meta de universalização dos serviços de telefonia e de acesso à internet previstos no plano de privatização do setor. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, tem em mãos uma lista com os municípios candidatos a repetir a experiência de Parintins. E, a pedido dele, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) fez as contas e concluiu que será preciso desembolsar R$ 350 milhões para a instalação de 2.511 torres de transmissão do Wimax no território nacional – pelo sistema convencional o gasto seria de aproximadamente R$ 3,5 bilhões (dez vezes mais, portanto) e ficariam fora de cobertura as áreas rurais que ainda não têm acesso à luz elétrica.

O Wimax (sigla em inglês para Rede Mundial de Interoperacionabilidade para Acesso por Microondas) é uma evolução do Wi-Fi, outra tecnologia de conexão à internet sem fio. A diferença é que o Wi-Fi recebe sinais emitidos por ondas de rádio, enquanto o Wimax “conversa” com o satélite, cujo sinal é muito mais potente. Pelas antenas de rádio (que atendem à tecnologia Wi-Fi), o sinal alcança um raio de 100 metros, distância que se multiplica por 500 metros nas redes Wimax. Na semana passada, a Agência Nacional de Telecomunicações recebeu o credenciamento de 100 empresas, incluindo as principais operadoras de telefonia brasileira, que pretendem participar até dezembro do leilão de licenças para serviços de internet sem fio. É uma grande porta que se abre para que os brasileiros acessem a internet, ainda que morem em cidades nas quais a infra-estrutura básica continue a inexistir.