Com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff consolidado, o Partido dos Trabalhadores está a poucos dias de perder o poder institucional. O poder da caneta. Cumpre-se, assim, um roteiro previsto na Constituição, endossado pelo Judiciário e pelo Legislativo.
E, como assegura o Estado Democrático de Direito, o jogo continua! Nossa democracia parece amadurecer com tudo isso e o falso debate sobre se houve golpe serve apenas para dar discurso àqueles que ainda se agarram a estrela petista e tapam os olhos diante da corrupção que ofuscou o seu brilho. Logo depois do impeachment, por mais que existam acaloradas manifestações em contrário, o poder institucional perdido pelo PT estará ocupado por outra legenda. A caneta desenhará uma nova caligrafia e os gabinetes de Brasília serão habitados por novos titulares.

Mas há outro poder que o PT perdeu – e não é de hoje. Não se trata do direito de usar a caneta, mas da capacidade real de aglutinar pessoas diferentes, gente progressista e plural. Uma enorme quantidade de jovens com um sincero desejo de construir uma nação melhor, mais justa, culturalmente diversificada, capaz de assegurar a inclusão e, acima de tudo, ética. Trabalhadores, estudantes, intelectuais, etc. Brasileiros animados em ocupar as ruas e, de forma bem humorada e pacífica, indicar os caminhos para um País livre e fraterno. Esse foi, ao longo das últimas décadas, o real poder que o PT um dia conquistou e que acabou destroçado pelo apego ao poder institucional.

O poder de representar a esperança de se acreditar que era possível fazer um Brasil para os brasileiros, para todos os brasileiros. Ao contrário do poder institucional que não permite vácuo, esse outro poder que o PT vem perdendo ao longo dos últimos 13 anos deixa um vazio que desafia as lideranças políticas.

Com a democracia consolidada, é notória a busca das pessoas por um espaço onde possam exercer plenamente a cidadania, fazendo política e buscando interferir nos rumos do País. Basta um olhar um pouco mais atento para perceber que nossos partidos políticos parecem distantes do propósito de serem os polos de acolhimento desses desejos. Nem mesmo as Igrejas mais progressistas, que durante o regime militar exerceram um pouco esse papel, hoje conseguem acolher a demanda. Se nossos líderes tiverem a sensibilidade de ocupar esse espaço, certamente a democracia brasileira ficará ainda mais madura. Esse vácuo deixado pelo PT, que sucumbiu diante do poder institucional, certamente irá provocar uma nova acomodação política – e, a partir dela, o Brasil poderá construir novas pontes entre eleitores e eleitos.