Foi-se o tempo em que os brasileiros só tomavam chá para afastar os sintomas de eventuais indisposições. A bebida ganhou status de iguaria e já disputa a atenção de chefs e gourmets com sumidades gastronômicas como vinhos, maltes e brandies. Nos bons restaurantes, a
mesmice dos chás de hortelã, camomila e erva-cidreira foi definitivamente substituída por variedades exóticas importadas do Oriente. Às vezes, os blends são desenvolvidos com exclusividade para a casa, como os criados pela argentina Inés Berton para o paulistano D.O.M., de Alex Atala. Para o restaurante do elegante Hotel Emiliano, também em São Paulo, foi o músico Ed Motta – um aficionado que toma até 15 xícaras por dia – quem prestou consultoria para o desenvolvimento de uma carta com 68 rótulos, importados de países como Ceilão, Indonésia, Índia e Japão. No local, o bule para quatro xícaras chega a custar R$ 52.

O requinte é tanto que, uma vez por mês, o hotel oferece uma versão resumida do chadô (“caminho do chá”), a tradicional cerimônia realizada no Japão desde o século XII. O ritual pode durar quatro horas conforme a refeição que o acompanha e inclui uma série de regras que devem ser obedecidas durante o preparo do matchá – a estrela do evento, um tipo especial de chá verde produzido com folhas de Camellia sinensis colhidas ao pé do Monte Fuji, no Japão, e servido em cumbucas de barro que chegam a custar US$ 10 mil. Lançada na última semana, a cerimônia do Emiliano dura meia hora e é conduzida por cinco japonesas com quimono. Além de apreciar o espetáculo, o convidado tem a oportunidade de provar o autêntico matchá. “Essa degustação é gratuita e restrita a 15 convidados. Trabalhamos com reservas e já não temos vagas até dezembro”, explica Marcos Mikulis, gerente de alimentos e bebidas do hotel.

A sofisticação do chá e dos locais de apreciação não se restringe a São Paulo. A festejada casa A Loja do Chá – franquia da rede alemã Tee Gschwendner, trazida ao Brasil pela gaúcha Carla Saueressig – tem oito endereços espalhados pelo País (em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Brasília) e conquista uma invejável clientela vendendo 240 diferentes tipos de chá a granel. Em duas das lojas – a do Shopping Iguatemi em São Paulo e a do Shopping Moinhos em Porto Alegre – há mesas para degustação. “O brasileiro ainda é um iniciante na arte de tomar chá. Só agora os restaurantes começam a investir nas cartas e a oferecer espaços adequados para o consumo”, diz Carla.

Em Salvador, o requinte do chá foi traduzido na recente carta adotada no restaurante do Hotel Convento do Carmo, que pertence à sofisticada rede internacional The Leading Small Hotels of the World. Lá, são oferecidos não apenas os tradicionais chás verde, oolong e preto, mas também infusões preparadas com ervas típicas do Nordeste, como cardamomo e dente-de-leão. Para acompanhar, o cliente escolhe entre salgados e doces europeus ou produtos típicos da Bahia: queijo de coalho com melado, tapioca e bolo de aipim, entre outros. Tudo isso a R$ 30 por pessoa. “A hora do chá é um momento de encontro. Por isso busco envolver o cliente na atmosfera de sonho desse lugar”, afirma o chef português João Paulo Vieira. Uma xícara de chá, de fato, pode ser um bom ponto de partida.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias