A jovem de Palmas (TO) Anna Beatriz Theophilo Dutra, 17 anos, sonhava ser diplomata. Para isso, traçou um roteiro de viagens para conhecer diversos países, entre eles, Argentina, Canadá, Paraguai e Estados Unidos. Neste último, porém, seu projeto foi interrompido na segunda-feira 18 pelo departamento de imigração de Detroit, em Michigan. A adolescente teve os documentos, o dinheiro, as malas e o celular apreendidos na conexão que fazia para chegar a Boston, onde ficaria hospedada na casa de uma amiga. Depois de horas na imigração, ela foi levada para um abrigo de menores sob a justificativa de que estava com um visto de turista, porém com intenção de estudar no país. “O interesse dela era conhecer museus, passear com a amiga e praticar o inglês no dia a dia”, disse à ISTOÉ a mãe, Leide Theophilo. “Ela ligou chorando, desesperada, pedindo para buscá-la.” Nos primeiros dias, a garota estava com acesso restrito ao celular e podia falar com a família apenas uma vez por semana, por dez minutos. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, agora ela possui acesso à internet. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, pediu na quinta-feira 28 satisfações à Ordem dos Advogados de Chicago para garantir a Anna Beatriz amplo direito de defesa.

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Acima, Anna Beatriz, que ia passar algumas semanas na casa de uma amiga
em Boston. A imigração no aeroporto (abaixo) considerou seu
visto inadequado e ela teve seus bens apreendidos

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Os pais, o empresário Eduardo Dutra e a jornalista Leide Theophilo, já haviam autorizado a filha a viajar. Segundo eles, os documentos estavam em dia, e a passagem de volta, comprada para 28 de junho. O Consulado do Brasil em Chicago, que age de forma absolutamente burocrática e está apenas fazendo a intermediação entre a família brasileira e a imigração americana, informou que a adolescente tentou entrar no país com o visto inadequado. O documento de turista é do tipo B1 e B2 e o visto de estudante é o F1. “Pode ter havido um problema de comunicação entre eles, mas nada que justifique ter a vida totalmente investigada e ser levada a um abrigo”, diz a mãe. Para a advogada especializada em questões de imigração Ana Paula Dias Marques, em tempos de crise econômica no Brasil, o rigor na seleção para a entrada em outros países aumenta. “Eles podem verificar o tempo de permanência e considerar que a pessoa quer trabalhar nesse período”, diz. “No entanto, quando ocorre alguma irregularidade, o estrangeiro é normalmente enviado de volta ao país de origem no próximo voo.” Não há registros de que nossos diplomatas tenham tomado ações mais efetivas para que a adolescente voltasse ao Brasil. 

O pior é que o imbróglio pode trazer complicações para o futuro de Anna Beatriz. Sob custódia do Escritório de Assentamento de Refugiados, ela teria de assinar um documento pedindo sua liberação e afirmando que “não deseja mais entrar nos Estados Unidos”. No dia 28, Leide recebeu autorização da imigração para acompanhar processo da filha em território americano, sob a condição de comprar uma passagem com voo de retorno de Chicago para o Brasil sem paradas. Em resposta ao Consulado, o pai de Anna Beatriz, Eduardo, disse que não vai assinar o documento, pois seria uma confissão de culpa. “Não acho justo que por um problema de comunicação ela esteja sendo tratada quase como uma criminosa”, afirma. “Gostaria de ter certeza de que ela não será impedida de retornar aos EUA após completar 18 anos.”

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Anna Beatriz tem vivido maus bocados nos últimos dias. Nos primeiros momentos em Detroit, a imigração pediu a senha das redes sociais da adolescente para ter acesso a informações pessoais. Quando foi levada para o abrigo, recebeu roupas, livros e revistas em português, que passaram por análise antes de serem entregues a ela. Foi, inclusive, submetida a exames médicos laboratoriais. “Quando cheguei, eles jogaram algumas coisas minhas fora, como escova de dente e papeis”, disse Anna, em uma das conversas com a mãe. Segundo os pais, quando a filha concluiu o ensino médio, eles a presentearam com viagens para que pudesse conhecer países e aprender outros idiomas antes de começar a faculdade. Leide está com a viagem para Chicago marcada para sábado 30 e permanecerá nos EUA até poder trazer a filha de volta ao Brasil.