Enquanto o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff espera a aprovação do Senado, o vice-presidente Michel Temer começa a dar os sinais esperados pelo mercado para manter o otimismo dos agentes econômicos. Na semana passada, ainda que de maneira extra-oficial, Temer confirmou o convite a Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central (BC), para assumir o Ministério da Fazenda num eventual governo pós-Dilma. Em tempos de polarização, o executivo – que, embora filiado ao PSD, sempre se manteve distante de questões partidárias – tem raro poder de agradar a diferentes setores da sociedade e da política, e reverter as expectativas dos investidores internacionais.

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ABRAÇO EM TEMER
Meirelles planeja mudanças na gestão dos bancos públicos e das estatais

“A presença dele vai ajudar a criar no Brasil um efeito arco-íris”, diz o economista e diplomata Marcos Troyjo, diretor do BRICLab, da Universidade de Columbia, em Nova York. “Se, por um lado, existem nuvens muito pesadas sobre a economia, como o desemprego, a inflação e a relação dívida/PIB, a chegada de alguém com o histórico de Meirelles vai trazer um raio de sol para esse cenário.” Segundo Troyjo, isso faria o governo ganhar a musculatura necessária para atacar problemas mais profundos, como a reforma da Previdência. Ainda que, no curto prazo, Meirelles já tenha admitido que o País precise aumentar impostos, Helio Beltrão, presidente do Instituto Mises Brasil, espera que o ajuste seja feito pelo corte de gastos e que a agenda de concessões e privatizações volte à pauta. “Ele é um gestor reconhecido e tem como prioridade voltar ao tripé macroeconômico, que foi deixado de lado com a nova matriz de Dilma”, afirma Beltrão.

No caminho para o reequilíbrio fiscal, Meirelles deve promover mudanças na gestão dos bancos públicos e das estatais. O mercado especula que uma das primeiras medidas a serem tomadas pelo novo governo será uma auditoria na Caixa Econômica, no Banco do Brasil e no BNDES, além da proposta de autonomia do BC, que prevê um mandato determinado ao presidente e aos diretores da instituição. Aos 70 anos, Meirelles está hoje à frente do Banco Original e do Conselho da J&F, holding que controla a JBS. Segundo pessoas próximas a ele, o executivo não hesitaria em voltar ao setor público. Para um ex-funcionário do BankBoston, Meirelles é “muito vaidoso” e “dinheiro passou a ser algo secundário em sua vida há algum tempo”. No horizonte, estaria a ambição de disputar a Presidência da República em 2018.

Meirelles é um homem de sucesso no setor privado no Brasil e no Exterior. Depois de assumir a presidência global do BankBoston, no fim dos anos 90, ele ganhou reconhecimento internacional, mas foi no comando do BC nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva que seu nome se tornou quase uma unanimidade nacional. Ele chegou a ser cogitado para ser vice na chapa de Dilma em 2010, na chapa de Aécio Neves em 2014 e ministro da Fazenda no início do segundo mandato da presidente. A falta de afinidade com ela, no entanto, adiou sua volta ao governo.

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Em 2002, o executivo tinha acabado de ser eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás quando aceitou o convite de Lula. Tido como líder leal e de perfil aglutinador, Meirelles montou uma equipe durante sua passagem pela autoridade monetária, entre 2003 e 2011, em maioria oriunda do setor privado e que, mesmo antipática ao governo, encarava o trabalho do ponto de vista técnico. Assim, resistiu a pressões que vinham de empresários e de representantes do próprio PT, como o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e manteve-se firme em não baixar os juros. Como resultado, Meirelles sustentou a inflação ao redor da meta, de 4,5%, condição nunca alcançada pelo sucessor, Alexandre Tombini, que, no ano passado, entregou a taxa em dois dígitos.

“Depois de uma carreira bem-sucedida no mercado brasileiro e depois no internacional, ele sentiu necessidade de um desafio maior e os grandes desafios estão do lado da política”, diz Carlos Fagundes, diretor da Integral Trust. Colega da época da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Fagundes destaca a habilidade de Meirelles em apresentar argumentos e convencer o interlocutor. Isso será colocado à prova nas negociações do ajuste fiscal com os deputados. “Seu sucesso vai depender da capacidade de articulação do governo com o Congresso, porque ideias boas o Joaquim (Levy, ex-ministro da Fazenda) também tinha”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC. “A margem de manobra que existe hoje no Orçamento é muito reduzida e, para mudar isso, é preciso mexer na Constituição.”  


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