Nos últimos dias, com o avanço de seu impeachment, a presidente Dilma deitou falação contra tudo e todos. Perdeu a compostura. Propagandeou inverdades para quem quisesse ouvir. Na falta de argumentos sérios e convincentes, tratou de afrontar de maneira aberta o estado democrático de direito. Atacou instituições com uma virulência poucas vezes vista entre chefes de nações. Classificou o processo de afastamento como uma “fraude jurídica e política”. A ofensa aos poderes constituídos não encontra respaldo nos fatos e jamais poderia ter sido lançada através das palavras da mandatária. Não é isso que se espera de quem representa o poder. Tivesse Dilma qualquer respeito pelo País não macularia sua imagem com tamanho desacato, inclusive em entrevistas a veículos estrangeiros e em eventos internacionais. Sabe a presidente que Legislativo e Judiciário estão funcionando plenamente dentro das atribuições que lhe cabem, em obediência rigorosa à lei. Ela, ao contrário, é quem incorre em erros com declarações distorcidas e potencialmente danosas à democracia. Seria por demais absurdo imaginar o Supremo Tribunal participando de um conluio com o Parlamento para derrubar a presidente, sem crime de responsabilidade tipificado e improbidade administrativa visível. Mas é isso que Dilma tenta, inadvertidamente, passar à sociedade e ao mundo. A Constituição não foi ferida, sequer no rito. Cerca de 70% da Câmara dos deputados votou pelo processo de afastamento. Não há regras violadas. O direito de defesa não esteve cerceado em nenhuma etapa. Apelações receberam espaço. Em suma, os trâmites processuais e políticos transcorreram dentro da normalidade e deixaram evidentes que as fraudes cometidas pelo Executivo aconteceram, seja através de créditos suplementares não autorizados, seja nas pedaladas fiscais – que, ao contrário do que alega Dilma e aliados, não se limitaram a meros atrasos. A presidente tenta daqui para frente legitimar a mentira como arma de resistência. Difama opositores sem base. Fala que eles vão cortar programas sociais. Difunde, de maneira temerária, riscos de instabilidade da ordem pública. Incita a agitação de grupos radicais. Cria um roteiro do início ao fim falacioso, inventivo, que desconsidera os próprios erros. O decano do STF, ministro Celso de Mello, alertou na quarta, 20, que Dilma comete “gravíssimo equívoco” ao tratar impeachment como golpe. E essa tem sido decerto a alegação mais repetida pela presidente em várias ocasiões. A apelação rasteira faz parte de uma estratégia de regimes bolivarianos que deitaram raízes em países de penúria econômica como Bolívia e Venezuela, cujos líderes se converteram em autênticos ditadores chauvinistas. Escorada por um projeto de perpetuação no poder do Partido dos Trabalhadores, Dilma insiste na farsa. Abre as portas do Planalto a comícios partidários e reclama de injustiças, enquanto tenta apagar da memória geral seus atos para obstruir a Justiça – como quando nomeou o ex-presidente Lula para o ministério com o objetivo de blindá-lo de investidas da polícia. A presidente bate na tecla de que não há contra sua pessoa qualquer acusação ou denúncia, embora elas transbordem para todos os lados. A Revista ISTOÉ traz nesta edição mais uma, grave, na qual o seu braço direito, o assessor Giles Azevedo, é acusado de montar uma engenharia financeira para abastecer as campanhas de 2010 e 2014 com recursos de caixa dois. Dilma entra assim diretamente no foco das denúncias da Lava-Jato. E terá de falar muito para explicar mais essa acusação.