O som – ou a ausência dele – são componentes essenciais da exposição que reúne reflexões de cinco artistas sobre as construções do papel da mulher na sociedade contemporânea. Com curadoria de Sandra Tucci, “Silêncio(s) do Feminino” expõe imagens que não primam pela mudez. Ao contrário, manifestam sonora ou silenciosamente depoimentos contundentes sobre as diversas frequências da condição feminina.

Nove obras da série “Fired” (2013), de Cris Bierrenbach, estão enfileiradas na abertura da exposição como um exército feminista. As fotografias são auto-retratos em que a artista veste-se como profissionais de diversas áreas (prostituta, policial, emprega doméstica, executiva, etc ) e borra sua identidade atirando contra a própria face. O impacto dessas imagens é tal, que o conjunto funciona como um statement, ou epígrafe da exposição.

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RUÍDO
Mulheres na linha de fogo, nas fotos da série ”Fired”, de Cris Bierrenbach (acima),
e no díptico ”Crimes Passionais”, de Marcela Tiboni (abaixo)

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As armas de fogo e os questionamentos identitários voltam a surgir no díptico fotográfico “Crimes Passionais” (2012), de Marcela Tiboni, em que a artista desafia a si mesma em um duelo armado. A partir do calibre desses dois trabalhos, entende-se que estamos diante de uma curadoria que não apenas quer “refletir sobre as vulnerabilidades socioculturais suportadas há séculos pela mulher”, como Tucci coloca em seu texto curatorial, mas que tem um viés afirmativamente feminista.

Não menos ensurdecedores são os trabalhos de Lia Chaia – videoperformance em que o som de água corrente contrasta com a imagem de um corpo grávido se contorcendo sobre lantejoulas vermelhas –, e de Beth Moyses (Ex-Purgo, 2011), em que o zumbido de abelhas nervosas em torno da palma da mão da artista besuntada de mel ameaçam a fragilidade da pele.

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Arremata o discurso da mostra “Assentamentos – Adão e Eva no Paraíso Brasileiro” (2014), de Rosana Paulino, forte denúncia das expedições pseudo-científicas que ocorreram no Brasil colonial, em defesa de teorias discriminatórias e racistas. Composta por galhos secos e esculturas de cera, a instalação se apropria também de fotografias de um casal de africanos recém-chegados ao Brasil, realizadas no século 19 a serviço de estratégias de controle. A instalação e os desenhos de Paulino são o revés desses métodos perversos de manutenção do poder colonialista e uma resposta que não mais irá calar.


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