Político, jornalista e marquês, o Nobel de Literatura Jorge Mario Pedro Vargas Llosa já era tido como um dos escritores vivos mais importantes do planeta. Mas este mês, em que completa seu 80º aniversário, o autor de “Pantaleão e as Visitadoras” conseguiu subir mais um patamar de reconhecimento, ao ver sua obra incluída na prestigiada coleção “La Plêiade”. Vargas Llosa se tornou com o feito o primeiro autor latino-americano a compartilhar em vida a almejada galeria criada nos anos 1930 pela editora Gallimard. 

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Espelho retrovisor: O escritor, que acaba de lançar na Espanha o livro 

 
E coloca-se assim, lado-a-lado com Claude Levi-Strauss, Eugène Ionesco e Milan Kundera, entre outros poucos e seletos. A coleção acaba de ser apresentada na Europa, mas Vargas Llosa não tem podido se dedicar integralmente às honrarias da homenagem. Os festejos em torno do dia de seu nascimento, 28 de março, incluem um novo e importante livro, novas traduções e palestras pelo mundo, inclusive no Brasil. O escritor abre este ano o Fronteiras do Pensamento, em maio (ver ao final da reportagem), e tem traduzido para o português pela primeira vez o bonito “O Barco das Crianças”, uma narrativa para a família inteira que chega este mês às livrarias de todo o País pela editora Alfaguara. 
 
As eleições presidenciais do Peru, seu país natal, certamente o moveram a correr com o lançamento do novo romance, que ainda não tem previsão de chegar ao Brasil. A história se passa em Lima durante a ditadura de Alberto Fujimori, de quem Vargas Llosa foi rival político. A filha de Fujimori, Keiko, é candidata ao pleito marcado para abril e está na frente nas intenções de voto. “Cinco Esquinas” se passa em uma bairro de mesmo nome da capital peruana, onde o escritor começou, aos 16 anos, sua carreira no jornalismo no periódico “La Crónica” – que segue até hoje com entusiasmo. 
 
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O personagem principal da trama é Vladimiro Montesinos, assessor de Fujimori que, como o ex-presidente, permanece na prisão aguardando julgamento por narcotráfico, organização de milícias paramilitares e corrupção. Um dos grandes alvos da crítica de Vargas Llosa no livro novo é a imprensa sensacionalista peruana, que, durante o governo Fujimori, agiu, segundo o escritor, de maneira difamatória e desonesta em relação à oposição. À um canal espanhol de televisão, ele declarou que o fujimorismo criou e financiou diários para castigar seus críticos. 
 
A capa da edição espanhola do romance reproduz, inclusive, a primeira página de um dos jornais do período. Apesar de ter a maior e mais importante parte de sua obra dedicada à ficção, o jornalismo nunca ficou à margem de sua produção e, mais que isso, lhe serviu de base. O romance “A Guerra do Fim do Mundo”, publicada no Peru em 1981 e, aqui, em 1984, é fruto de meses de pesquisa do hoje articulista do El País no sertão baiano onde ocorreu a Revolta de Canudos. 
 
“Conversas na Catedral”, um de seus livros mais importantes, é narrado a partir dos olhos de um jornalista, filho de um empresário bem relacionado politicamente com as entranhas da ditadura do general Manuel Odría (1948-1956), em seu país. “Conversas” é a obra que o autor de “Tia Julia e o Escrivinhador” salvaria se pudesse escolher apenas um de seus livros em um incêndio. É um romance que Vargas Llosa diz ter buscado em suas “aventuras precoces enquanto jornalista”, conta. 
 
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