O nome de Anderson Dorneles, ex-assessor especial da presidente Dilma Rousseff e tratado como um filho por ela, volta a assombrar o Palácio do Planalto por causa dos resultados da 26ª fase da operação Lava Jato, deflagrada nesta semana. Dorneles foi afastado do seu posto em fevereiro, sob o pretexto de que se casaria no Rio Grande do Sul. A ordem no Planalto foi não comentar o assunto, mas sua exoneração foi um movimento para blindar a petista porque já se sabia que o nome de Dorneles estaria ligado aos donos do Red Bar, estabelecimento comercial inaugurado no fim de 2015 na arena Beira-Rio e bancado pela Andrade Gutierrez. 

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Sociedade suspeita: Douglas Franzoni (ao centro), apanhado pela PF,
aparece ao lado de Anderson Dorneles (à esq) durante inauguração
do Red Bar, situado no estádio Beira-Rio

 
Na semana passada, a Operação Xepa, desdobramento da Acarajé, fase que levou o marqueteiro João Santana para a cadeia, trouxe a confirmação de que Dorneles pode, de fato, ser um problema para o Planalto. O nome de Douglas Franzoni Rodrigues, advogado do ex-assessor de Dilma e sócio do Red Bar, apareceu em planilhas da contabilidade clandestina da Odebrecht. Essa contabilidade existia para o pagamento de propina a políticos, de acordo com os investigadores da Lava Jato. Os documentos fazem parte do inquérito que respaldou a ação policial. 
 
Franzoni é relacionado a valores que somam pelo menos R$ 200 mil, sendo R$ 50 mil no dia 4 de novembro de 2014, pouco após as eleições que reconduziram Dilma à Presidência, e R$ 150 mil no dia 23 de março de 2015. As planilhas foram encontradas pela PF em poder da secretária Maria Lúcia Tavares, a secretária que firmou acordo de delação premiada com o MPF. Constam no papel endereços com locais de entrega de recursos em espécie associado a codinomes. No caso de Franzoni, o apelido associado a ele é “Las Vegas” e, segundo a planilha, a entrega do valor seria num hotel no centro de Brasília.
 
O amigo de Anderson Dorneles ocupou cargos no Executivo federal antes de se lançar na vida empresarial. Em setembro de 2005, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Franzoni foi nomeado para o cargo de assistente técnico na Secretaria de Controle Interno da Casa Civil da Presidência, quando a pasta era comandada por Dilma. Não chegou a tomar posse. 
 
Em agosto de 2007, ele foi designado para a Consultoria Jurídica do Ministério de Minas e Energia, época em que também atuou como advogado da Eletronorte, duas áreas sob a influência de Dilma e de sua ex-auxiliar Erenice Guerra. Franzoni também foi nomeado para cargo comissionado da Gerência Executiva da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em novembro de 2008. Agora, o itinerário foi bem diferente: condução coercitiva para explicar à PF a razão de aparecer na contabilidade clandestina da Odebrecht.
 
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