24/03/2016 - 20:00
O escritor e jornalista Fernando Gabeira, 75 anos, ex-deputado do PT e do PV é, hoje, um incansável defensor do impeachment da presidente Dilma Rousseff e da prisão do ex-presidente Lula, que ele chama de “chefe da quadrilha”.
Há argumento constitucional para o impeachment da presidente?
Dilma é corrupta?
Não há nada que diga respeito a ela, pessoalmente. O problema é que ela é a presidente da República e foi eleita nesse contexto de ilegalidade. O que se pede hoje não é a prisão dela, é o impeachment. A prisão que se pede é a do Lula. Você vai às ruas e ninguém fala “Dilma na prisão”. Se fala em “Fora Dilma e Lula na prisão”.
No primeiro momento, o próprio impeachment e a transição vão garantir uma retomada nas expectativas da economia. Quando isso acontece, o crescimento já começa a se manifestar, há mais investimentos, uma sensação nova que impulsiona a economia. Essa é a primeira etapa. Mas nós precisamos fazer uma sequência de coisas que tornem o Estado menos oneroso, reduzir os custos, fazer reformas como a da previdência, e uma série de outras que busquem um Estado brasileiro viável economicamente – e não um imenso vampiro sugando a população. Ela (presidente) saindo, o (vice-presidente) Michel Temer (PMDB/SP) passa a trabalhar a transição. Aí fica dependendo de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a chapa. Como o Brasil é um país com muitos acordos nesses momentos de crise, muito possivelmente a definição da cassação do Temer também leve algum tempo até que a transição esteja estável.
A lista do empresário Marcelo Odebrecht (planilha apreendida pela Polícia Federal com supostos registros de repasses a mais de 200 políticos) é extensa e envolve grande parte dos parlamentares do Congresso Nacional. Isso pode abalar a política em geral?
Eu acho que não! Acredito que a imagem dele continua muito firme na opinião pública brasileira. A maioria das pessoas considera que ele está fazendo um excelente trabalho e, mais ainda, que ele fez muito bem em revelar a conversa da Dilma com o Lula, porque fazia parte de um processo que ele estava investigando. De acordo com a norma, no final dos processos é preciso levantar o sigilo dos fatos. Então não acho que a força do Moro tenha caído, pelo contrário. Acho que ele continua sendo respeitado.
Acho difícil que a Câmara venha a discutir alguma coisa nos próximos 30 dias além do impeachment. Então, o pacote econômico apresentado esta semana dificilmente será apreciado.
Ele precisa se afastar imediatamente. Seria uma grande ajuda ao País. Se não houver força nem rapidez na Câmara, o Supremo (Tribunal Federal) poderia fazer isso. A saída de Cunha daria legitimidade muito maior ao Congresso e ao que se está discutindo. É claro que o impeachment tem a legitimidade das ruas, mas é importante também que ele seja conduzido por alguém de nível. O processo de decadência do Congresso Nacional se deveu muito, por um período, à política do próprio governo, aviltando e estabelecendo uma postura de toma lá dá cá. O governo, progressivamente, minou a base moral do Congresso.
A homologação da delação do senador Delcídio do Amaral (PT) vale como forte indício de ilícitos?
O ministro Teori Zavascki (do STF) homologou a delação premiada e agora terão de ser feitas as investigações para concluir se o conteúdo da delação é verdadeiro ou não. Tudo tem que ser apurado.
O PSDB e o PMDB já discutem sobre o País sem Dilma. Agora que alguns de seus representantes também constam nas denúncias, muda algo?
Eles não têm saída. É preciso discutir o futuro do Brasil. Lá adiante, caso todos, ou um deles, estejam envolvidos, a gente vê o que faz. Não tem jeito, a Lava Jato não vai parar porque caiu o governo. Ela vai continuar atuando porque todas essas delações serão computadas, processadas e examinadas. Não acredito que o impeachment seja uma forma de travar a Lava Jato.
Manifestantes vaiaram petistas, tucanos, representantes do DEM e do PMDB. Isso significa que a população brasileira está com ódio de políticos de modo geral?
Todo o projeto deles (PT) era esse: comprar o parlamento, conquistar a justiça através das suas inserções e chegar ao controle da imprensa. Este último, no Brasil foi impossível, tal qual o controle total da Justiça, que não conseguiram. Tentaram derrubar o parlamento para tê-lo nas mãos, mas o processo de degradação foi tal que os bandidos maiores assumiram: um bandido maior assume na Câmara dos Deputados (referindo-se a Cunha) e um bandido também grande assume no Senado (referindo-se a Renan Calheiros, do PMDB). Então você tem o parlamento dirigido por dois bandidos.
A Lava Jato vai continuar seu curso, não há hipótese de ela ser interrompida. Ela continua sendo respeitada, embora esteja sob pressão. No momento, os ataques à Lava Jato são uma dificuldade em defender o mérito do caso. Não dá para dizer: ‘Isso não foi feito. Não foram roubados tantos milhões da Petrobras. Não foram recuperados no exterior R$ 800 milhões’. Tudo isso são provas muito concretas e substanciais da corrupção. Em vez de falar da corrupção e explicar o que aconteceu, as pessoas se detém na forma como a operação se mantém. Em vez de discutir o mérito, que é o grande assalto ao País, eles discutem a forma como a PF está conduzindo o caso. A única coisa que eu acho que a Lava Jato precisa tomar algum cuidado é na divulgação de escutas particulares que não têm importância para o processo, nem para a vida política do Brasil. No geral, a minha impressão é de que eles fazem uma partida magnífica e, como todas, sempre cometem algumas faltas.