O Congresso Nacional que acaba de nascer das urnas traz uma eclética caixa de surpresas. A começar pelo estilista Clodovil Hernandez, a sensação da hora, eleito deputado federal por São Paulo com 493 mil votos. Considerados mortos e enterrados para a política, sete deputados mensaleiros e cinco sanguessugas ressuscitaram das urnas – entre eles o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha. O tapete verde da Câmara também se estendeu para Paulo Maluf, do PP de São Paulo, o campeão nacional dessas eleições, com 739 mil votos. Há um ano, Maluf dormia na cadeia, acusado de coagir testemunhas. Já o carpete azul do Senado recebe o ex-presidente Fernando Collor, de castigo desde o impeachment de 1992. “O tempo é o senhor da razão”, diz Collor. Também estão entre os anistiados um grupo de políticos envolvidos em escândalos na década de 90 – entre eles, o gaúcho Ibsen Pinheiro (acusado de ser um dos anões do orçamento), o paranaense Alceni Guerra (ex-ministro da Saúde, acusado de superfaturar a compra de bicicletas) e o mineiro Humberto Souto (líder do governo Collor na Câmara).

“O eleitor costuma ser generoso e perdoa aquele político que se comporta de modo humilde”, explica Antônio Augusto de Queiroz , diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. “Mas eles terão de ficar na moita até recuperar a credibilidade.” Uma das grandes surpresas foi a derrota de Delfim Netto, 55 anos de vida pública, ex-ministro de três governos, que tentava seu sexto mandato como deputado. “Não entendi, só sei que faltou voto”, diz o professor. O ex-governador paulista Luiz Antônio Fleury, do PTB, também não conseguiu renovar sua vaga de deputado. No Rio de Janeiro, quem não se reelegeu foi Márcio Fortes, do PSDB, e uma das estrelas das CPIs, Antônio Carlos Biscaia, do PT. As urnas endossaram igualmente uma legião de personalidades que fizeram fama na defesa da ética e no combate à corrupção. Pedro Simon, do PMDB gaúcho, volta ao Senado com 1,9 milhão de votos. Eduardo Suplicy, do PT paulista, foi ratificado por 8,9 milhões de eleitores. Do Rio, volta o deputado Fernando Gabeira, do PV, campeão de votos no Estado. Criador do site Contas Abertas, o brasiliense Augusto Carvalho, do PPS, estava há quatro anos exilado como deputado distrital; agora volta à Câmara Federal entre os mais votados. O deputado tucano Gustavo Fruet, que fez fama na CPI dos Correios, também foi o campeão do Paraná, com 210 mil votos.

“O Congresso que vem é melhor do que o que vai”, avalia o cientista político
David Fleischer, da UnB. Há várias facetas para se analisar entre as novas estrelas de Brasília. Em Minas, por exemplo, o eleitor estava diante do dilema de escolher para o Senado o ex-governador Newton Cardoso, do PMDB, um dos mais polêmicos políticos do Pais, e o ex-ministro da Fazenda Eliseu Resende, do PFL, um dos grandes especialistas do País em infra-estrutura. Deu Eliseu na cabeça, com
cinco milhões de votos.