Deu-se o inevitável: candidatos eleitos ficarão órfãos. Partidos pequenos abriram a temporada de fusões e incorporações. A cena política está em ritmo de mudanças. Mais de uma centena de parlamentares eleitos em 1º de outubro não querem virar deputados de segunda classe. É o caso de Fernando Gabeira. Ele chegará à Câmara como o deputado mais votado do Rio de Janeiro, com 256.226 votos, e pouco poderá fazer. Seu partido, o PV, não atingiu a chamada cláusula de barreira, que penaliza as legendas que não tenham atingido 5% dos votos nacionais e 2% em pelo menos nove Estados. Com isso, se permanecer em seu Partido Verde, Gabeira não poderá, por exemplo, participar de CPIs, uma das sanções que seu partido receberá. O PV também não terá líder para encaminhar votações nem participará da definição da pauta de votações da Câmara. Praticamente não terá tempo de propaganda política na tevê nem recursos do fundo partidário. Essa situação tem provocado articulações para troca-troca de partidos e até fusões partidárias. O PV, por exemplo, já trabalha para se unir ao PHS e ao PPS.

O problema não se restringe às três legendas. Até a quinta-feira 5, o TSE não havia determinado de que forma fará o cálculo do limite imposto pela cláusula de barreira. O TSE considerou três diferentes interpretações para fazer a conta. Na mais rigorosa, apenas seis partidos (PMDB, PT, PSDB, PFL, PSB e PP) teriam cumprido a exigência. Na mais elástica, a lista chega a dez (entrariam, então, PTB, PDT, PL e PPS). Nada menos que 19 siglas ficaram do outro lado da barreira. Entre elas está o PSOL da senadora Heloísa Helena. Se ao serem empossados todos os deputados eleitos ainda estiverem nos partidos pelos quais se elegeram, e se o TSE impuser a faceta mais rígida da regra, nada menos que 142 serão parlamentares de segunda categoria. “Esses parlamentares não têm muitas alternativas: ou alteram leis e regimentos internos ou terão de discutir fusões de partidos ou, então, simplesmente mudar para outros partidos maiores”, comenta o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz.

A discussão sobre as fusões e criações de novos partidos começou logo depois de anunciado o resultado das urnas. “Nós estamos tranqüilos, faremos uniões que nos livrarão do problema”, anuncia o presidente do PTB, Roberto Jefferson. Inicialmente, o PTB, que fez 22 deputados, irá se fundir ao PSC, que elegeu nove. Em seguida, deverá também se juntar com o PAN, somando aí mais um deputado. Após o somatório dos votos das três legendas, a cláusula de barreira estará transposta. Mesmo entre partidos de ideologia mais radical, como o PCdoB, há quem defenda fusões. O partido, sempre muito próximo do governo Lula, poderá acabar se unindo ao PT. Só quem não aceita fazer qualquer discussão a respeito de fusões é o PSOL. Embora o PSB tenha ultrapassado a limitação, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) defende que a oportunidade deveria ser aproveitada para a construção de um novo partido de esquerda. É, porém, uma posição minoritária entre os socialistas. Entusiasmado com a votação de Ciro Gomes, o deputado proporcionalmente mais votado do País, o partido de Erundina aposta na aproximação com o PT.

 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias