Ao assumir a Presidência dos Estados Unidos como o primeiro negro a ocupar a principal cadeira da Casa Branca, há oito anos, Barack Obama optou por unir o país e adotar uma política conciliadora. Com a proximidade da definição de seu sucessor, o que o eleitor americano tem visto é uma nação dividida no apoio a dois candidatos bem diferentes: Donald Trump e Hillary Clinton. O magnata e apresentador de tevê encarna como nenhum outro político a figura do “bully” (brigão, em português). Trump é tão agressivo que constrange os adversários a ponto de eles evitarem atacá-lo de volta. 

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Tensão: Trump e Hillary: retrocesso diante da política conciliadora de Obama

 
Como se estivesse numa guerra, divide e intimida. Sua campanha provocou fissuras no Partido Republicano, cuja cúpula, até a semana passada, fazia cálculos para evitar sua candidatura. Os líderes acreditavam que, com o apoio dos chamados superdelegados na convenção do partido, em junho, eles poderiam nomear Marco Rubio como o candidato mas, bem mais moderado que Trump, o senador cubano-americano desistiu da corrida presidencial após perder para o empresário na Flórida, seu reduto eleitoral.
 
Uma reportagem da revista americana “Time” mostrou que essa sempre foi a estratégia de Trump. Em 1989, depois que uma jovem foi estuprada no Central Park, em Nova York, o magnata pagou uma página de anúncio num jornal para pedir a volta da pena de morte e disse que odiaria para sempre os homens que haviam cometido o crime. Cinco adolescentes negros e latinos foram presos e condenados, mas acabaram soltos por evidências de DNA e processaram a cidade. Quando saiu a decisão, Trump voltou a público para classificá-la como uma “desgraça.” 
 
É esse o candidato que hoje defende a construção de um muro pago pelo México, a extradição de até 12 milhões de imigrantes ilegais e a proibição da entrada de muçulmanos no país. Na terça-feira 15, após vencer as primárias do Partido Democrata nos Estados da Flórida, Ohio e Carolina do Norte, Hillary tentou atingir Trump com o viés que mais constrange sua candidatura aos olhos do mundo: o belicista. “O grande teste para nosso próximo presidente é manter-nos seguros”, afirmou. “Vivemos num mundo perigoso.”
 
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País dividido: Rubio, eliminado da disputa: “A política do ressentimento
deixará uma nação rachada”

 
Isso só favorece os argumentos de Trump, que tenta mostrar que a segurança nacional não é um assunto do qual a democrata possa se orgulhar. Quando era senadora por Nova York, ela votou a favor da impopular e fracassada Guerra do Iraque (o que lhe custou a nomeação do partido em 2008), e, durante a chefia da Secretaria de Estado no governo de Obama, teve que responder pelo ataque terrorista à Embaixada dos EUA em Benghazi, Líbia, que matou quatro americanos, inclusive o embaixador, Chris Stevens.
 
A atuação da ex-secretária de Estado na Líbia é o centro da crítica da americana Diana Johnstone, autora de “Queen of Chaos: The Misadventures of Hillary Clinton” (“Rainha do Caos: As Desventuras de Hillary Clinton”, numa tradução livre para o português). Segundo a escritora, a democrata planejava usar a intervenção no país árabe como base para a “doutrina Clinton” ao prever uma troca de regime suave e inteligente. O que se viu, no entanto, foi que a deposição do ditador Muammar Kadafi pelas potências ocidentais, em 2011, deu início a uma guerra civil que se arrasta até hoje e ainda mata milhares de civis. 
 
Enquanto grupos armados rivais cometem uma série de crimes de guerra, mais de 2 milhões de pessoas precisam de assistência e proteção humanitária da ONU. “Guerra cria caos e Hillary tem sido ávida defensora de toda guerra agressiva dos EUA no último quarto de século”, disse Diana, em entrevista ao Centro para Pesquisa em Globalização, do Canadá. Não por acaso, a grande rejeição à ex-primeira-dama parte da imagem autoritária e do desconforto de Hillary, que, nos últimos anos, manteve uma relação próxima com os grandes bancos, ao falar de temas como desigualdade social. 
 
Nessa guerra tribal em que se transformou a corrida presidencial americana entre partidos que, durante tantos anos, foram considerados menos ideológicos que pragmáticos, todos perdem. Talvez a maior lição do momento esteja nas palavras do republicano Marco Rubio. “A política do ressentimento contra as outras pessoas nos deixará não só um partido rachado, mas uma nação rachada”, disse, ao retirar sua candidatura.
 
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