Na semana passada, com a homologação da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), antecipada por ISTOÉ, foi revelada a tentativa frustrada do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de atrapalhar a Operação Lava Jato. Delcídio entregou ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, uma gravação em que Mercadante conversa com Eduardo Marzagão, seu assessor parlamentar, e oferece ajuda política e financeira para ele desistir da delação. No diálogo, fica claro o empenho de Mercadante para comprar o silêncio de Delcídio, evitando assim novos e graves embaraços para Dilma e Lula. 

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Indissociáveis: Dilma confia a Mercadante as principais missões do governo,
apesar de ele ter deixado a Casa Civil

 
Ao tentar se explicar, Mercadante envidou esforços para afastar a presidente de mais um escândalo. Disse que agiu por uma iniciativa própria, à revelia de Dilma. A versão não para de pé. O ministro da Educação é considerado um dos auxiliares dos mais próximos e fiéis da petista. Até os ascensoristas do Planalto sabem que Mercadante não tinha como ter agido de maneira autônoma como alega ter feito, sem combinar previamente com a presidente. 
 
Se hoje há três ministros a quem Dilma confia seus mais recônditos segredos e as mais espinhosas missões, um deles indiscutivelmente é Aloizio Mercadante – que só deixou a Casa Civil no ano passado para ceder lugar a Jaques Wagner por uma exigência de Lula. No que dependesse única e exclusivamente de Dilma, Mercadante teria permanecido até hoje como principal ministro do governo. Foi no dia 12 de fevereiro, uma sexta-feira, que Delcídio entregou ao Ministério Público Federal a gravação da conversa entre seu assessor Eduardo Marzagão e Mercadante. 
 
O encontro ocorreu na sede do Ministério da Educação, em Brasília. De acordo com o senador, Mercadante buscou contato com sua mulher, Maika, que não teria concordado em encontrá-lo porque não gostava de se envolver em tais assuntos e também porque teria ciência de que seu marido e o ministro mantinham relação atritada por questões políticas. As conversas entre Marzagão e Mercadante ocorreram no início de dezembro de 2015, poucos dias depois de Delcídio ser preso em Brasília por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). 
 
“Mercadante disse a Marzagão que era para eu ter calma e avaliar muito bem a conduta a tomar diante da complexidade do momento político”, afirmou Delcídio aos procuradores da República. “A mensagem, a bem da verdade, era no sentido de não procurar o Ministério Público Federal para, assim, ser viabilizado o aprofundamento das investigações da Lava Jato.” Na delação, Delcídio fez um relato sobre a estreita relação cultivada por Dilma e Mercadante. “Ele (Mercadante) é dos poucos que possui a confiança de Dilma”, disse o senador. 
 
“Se ela tiver que descer a rampa do Planalto sozinha, eu descerei ao lado dela”, chegou a dizer Mercadante segundo revelou Delcídio. “Por isso entendo que Mercadante agiu como emissário da presidente da República e, portanto, do governo”, afirmou. Em seu depoimento aos procuradores da Lava Jato, Delcídio disse ainda o que todos no governo, mesmo os integrantes dos mais baixos escalões da República, são capazes de atestar. Segundo ele, Mercadante prosseguiu sendo o conselheiro político “privilegiado” de Dilma, a despeito de ter deixado a Casa Civil. “Mercadante continuou a exercer tarefas delegadas diretamente pela presidente”, asseverou.
 
Mercadante já apareceu envolvido em outras situações nada republicanas. Em 2006, quando concorria ao governo de São Paulo contra o hoje senador José Serra (PSDB), o nome do petista foi citado no escândalo conhecido como “Dossiê Tucano”. Pessoas ligadas à campanha de Mercadante foram presos pela Polícia Federal acusados de tentar comprar informações que pudessem comprometer Serra em irregularidades envolvendo emendas parlamentares que destinavam dinheiro a prefeituras para a compra de ambulâncias.
 
Por causa desse caso, mesmo os petistas mais fiéis passaram a tratá-lo como aloprado. Este ano, o ministro Celso de Mello, do STF, abriu inquérito para investigar suspeitas de crime eleitoral e lavagem de dinheiro na campanha de Mercadante ao governo de São Paulo em 2010. A apuração é desdobramento da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, que indicou ter abastecido a campanha do petista com dinheiro de caixa 2.
 
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