18/03/2016 - 20:00
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), uma das principais lideranças políticas do País, está finalizando um acordo de pactuação pelo Brasil com as oposições e com o PMDB, o partido mais importante da base aliada da presidente Dilma Rousseff.
Articulação: Aécio tem mantido frequentes reuniões com lideranças do PMDB
“Fernando Henrique está participando de tudo. Ele está muito
alinhado com nossas idéias e acha que o impeachment é a saída”
“Vamos negociar uma agenda para os próximos dois anos,
que possa ser implementada pelo vice-presidente, Michel Temer,
e que permita ao Brasil voltar a respirar”
Com quem está sendo costurado esse consenso de pós-Dilma com governo de transição até 2018?
Com o PSDB e as oposições. Estamos tendo conversas com lideranças do PMDB, especialmente no Senado e a nossa expectativa é a de que o partido compreenda que, mais do que o interesse por cargos em um governo moribundo, a legenda tem uma oportunidade única de honrar a sua história. É hora de o PMDB voltar os olhos para o passado, compreender que o que fez dele o maior partido do País não foi a distribuição de cargos, mas sim a coragem que teve de enfrentar a ditadura e romper com ela.
O que foi dito ao presidente Renan quando ele surgiu com a ideia de presidencialismo com menos poderes para a presidente é que ele quis preservar sempre a figura da presidente Dilma. E, não é por vontade da oposição, por revanchismo eleitoral. É uma constatação nua e crua não apenas da classe política, mas da sociedade brasileira de que a presidente no cargo é um anticlímax, é a antítese de tudo o que o Brasil precisa. Será que o Brasil aguenta mais dois anos e oito meses de aprofundamento da crise econômica, do desemprego, da inflação, da carestia, dessa conflagração nacional que estamos assistindo hoje? Eu acho que não.
Nos falamos por telefone recentemente, ficamos de ter algumas conversas e estas têm que ser feitas à luz do dia, têm que ser naturais. Porque o vice Michel, querendo ou não, goste-se ou não, terá um papel importante nesse processo. Lideranças de oposição têm tido alguns contatos com ele. Eu, por representar a institucionalidade e ser presidente do PSDB, tenho tido um pouco mais de cautela. Mas não se surpreendam se dentro de poucos dias essas conversas se tornarem mais frequentes.
Pode soar como uma tentativa de conspiração?
Caberá o compromisso de construir uma grande aliança, sem interferência no processo de 2018. E, obviamente, que quem assumir não estará disputando a eleição de 2018 para que fique claro que essa agenda não ficará contaminada pelos projetos futuros. O PSDB continua tendo um projeto do Brasil. Nós apresentamos propostas para o País, discutimos com amplos setores da sociedade e ela está registrada no TSE. Queremos resgatar essa proposta. Não vamos abdicar desse projeto. Mas o Brasil não aguenta chegar até 2018 com esse escárnio todo.
Na prática, ninguém quer discutir essas reformas. Por que em um governo de transição elas seriam aprovadas?
Um novo governo teria legitimidade, porque a presidente da República não acredita na reforma da Previdência e seu partido rejeita essa reforma. O novo governo tem que ter uma característica essencial: acreditar naquilo que propõe.
O senhor apoiaria uma discussão sobre CPMF?
A CPMF, a meu ver, é recessiva. Nesse momento, não é o instrumento que o Brasil precisa para resgatar o que é essencial, que é a confiança e a credibilidade. Não está na nossa agenda a criação de novos impostos.
Não temos qualquer pretensão de ocupar cargos. Não acho que seja necessário, acho que não seria nem sequer adequado. Se alguém, do ponto de vista individual, optar por isso, é de cada um, mas enquanto partido defenderei a tese de que devemos nos concentrar nessa agenda de saída da crise, o que sinalizaria do ponto de vista da economia com a diminuição das taxas de juros de longo prazo, com resgate do planejamento das empresas para voltarem a investir. O Brasil precisa mudar o sinal, como o que aconteceu na Argentina. Que, mesmo sem reformas estruturantes, com 30, 60 dias da posse do (presidente Maurício) Macri investimentos que deveriam estar vindo para o Brasil já estão indo para a Argentina. E essa mudança de expectativa não ocorrerá com a presidente Dilma no cargo.
Sim, ele está participando de tudo. Está muito alinhado com tudo isso e acha que o impeachment é a saída.
O senhor foi acusado na delação do senador Delcídio do Amaral.
Todas as delações têm que ser investigadas. As citações do senador Delcídio em relação a mim foram explicadas e esclarecidas e pela sua fragilidade não terão qualquer consequência. O que é fato deve ser investigado. O que é falso deve ser arquivado