A safra de governadores colhida nas urnas de 1º de outubro tem três fenômenos e três surpresas. Do Espírito Santo veio o campeão de votos Paulo Hartung, reeleito com 77,27% dos votos. Aécio Neves, de Minas Gerais, conseguiu o mesmo feito com uma marca muito semelhante e a vantagem de amealhar 7,4 milhões de votos no segundo maior colégio eleitoral do País. Pela primeira vez desde a redemocratização, São Paulo escolheu em José Serra um governador sem a necessidade de um segundo turno. E de onde ninguém esperava, a Bahia do carlismo, veio a surpresa Jaques Wagner.

Em Alagoas, os tucanos também surpreenderam. Teotônio Vilela Filho (PSDB) superou as previsões de uma disputa acirrada e derrotou de cara o seu principal adversário, João Lyra (PTB). O PMDB gaúcho ficou atônito com a decisão dos eleitores de tirarem do segundo turno o governador Germano Rigotto e pondo em seu lugar a ex-ministra tucana Yeda Crusius, que vai disputar a vaga com Olívio Dutra, do PT. Ao todo, 17 governadores foram eleitos.

Promete-se para o domingo 29 uma disputa acirrada para definir quem serão os outros dez governadores. Um exemplo desse cenário é o Maranhão, onde Roseana Sarney terá que enfrentar uma união de oposição capitaneada por Jackson Lago, para tentar se eleger governadora. A tarefa não será nada fácil. Igualmente já está em curso uma boa briga no Paraná, onde o atual governador Roberto Requião não esperava ter pela frente o ex-senador Osmar Dias, ainda mais com o reforço da eleição de seu irmão Álvaro para o Senado.

Para cientistas políticos, como José Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos (Ibep), essa nova safra de governadores traz uma novidade: “Chega o tempo em que a cena política brasileira passa a ser dominada por líderes já formados após a democratização, que nada ou muito pouco têm a ver com o período anterior à ditadura militar. Eles é que estarão disputando o poder central na próxima
eleição”, avalia. Já para Fábio Wanderley Reis, da UFMG, embora a nova safra de governadores represente a ascensão de jovens políticos ao poder, a mudança não reflete, necessariamente, um ganho de qualidade. “É uma mudança, mesmo que não seja possível dizer se será positiva ou negativa, porque isso vai depender da qualificação de cada um, independentemente de ser mais jovem ou mais velho”, diz o professor.

Os trunfos do PT também emergiram da era pós-redemocratização. Jorge Viana, 47 anos, foi governador do Acre por dois mandatos e conseguiu eleger agora o ilustre desconhecido Binho Marques, seu sucessor. Marcelo Déda, eleito governador em Sergipe com 52,46% dos votos, é outro fruto dessa nova safra. Ele tem a mesma idade do tucano Aécio, 46 anos.

No Brasil, os chefes dos executivos estaduais têm um peso federativo importantíssimo. O resultado final das disputas nos Estados afetará diretamente o futuro presidente da República, seja ele Lula ou Geraldo Alckmin. Dos fenômenos surgidos das urnas, por exemplo, é certo que dois deles, apesar de ser considerados grandes trunfos do PSDB, podem trazer muita dor de cabeça para o futuro comandante do Planalto. Aécio e Serra, comandantes dos Estados mais importantes e de grandeza igual quando se trata de número de votos, saem com
um cacife excepcional para disputar as eleições presidenciais em 2010.

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