A presidente Dilma Rousseff agiu como pessoa física ao visitar o seu criador e antecessor Lula no sábado 5. Fez o privado com recursos públicos, mas por se tratar da presidente da República, que até mesmo por segurança não pode mover-se sem carregar um séquito, o gasto é admissível.

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O gesto, porém, é discutível. Não pelo fato de empenhar solidariedade e demonstrar gratidão ao homem que a colocou no topo do poder. Mas por demonstrar o que está no alto de sua escala de prioridades e pelo que não fez em outras ocasiões. Dilma deixou transparecer que, ao invés de governar para todos, usa o cargo em benefício de um determinado grupo.

Desde que ISTOÉ circulou na quinta-feira 3, trazendo o conteúdo da delação do senador Delcídio do Amaral à força-tarefa da Lava Jato, a presidente convocou uma série de reuniões ministeriais, fez vários pronunciamentos públicos e, em pouco mais de 48 horas, embarcou nas aeronaves da FAB em direção a São Bernardo do Campo (SP) para abraçar Lula e, num movimento raro em seu governo, aproximar-se do povo.

Atuou como uma agilidade poucas vezes vista, mesmo nas vezes em que grandes questões nacionais exigiam. Sua marca, na verdade, é a reação tardia e desordenada. O ataque ao Aedes aegypt, por exemplo, chegou com anos de atraso.

A delação de Delcídio e a condução coercitiva de Lula pela Polícia Federal despertaram em Dilma um sentido de urgência que ela não demonstrou em muitos momentos. Isso foi percebido com clareza nas manifestações nas redes sociais.

Não foram poucas as postagens comparando o comportamento presidencial deste fim de semana à reação dela nos dias seguintes à tragédia de Mariana, decorrente do rompimento da barragem de resíduos da mineradora Samarco. Dilma demorou mais de 24 horas para reunir sua equipe e manifestar-se e quase uma semana para deslocar-se até a região.

Quando foi, apenas sobrevoou a área atingida. A solidariedade ficou mais em palavras tardias do que em gestos, que, para uma presidente que vive uma crise de popularidade, poderiam render um sopro de simpatia da opinião pública. O governo Dilma não tinha nenhuma responsabilidade pela tragédia de Mariana.

A presidente, ali, seria uma autoridade preocupada com o bem-estar dos cidadãos atingidos. Mas, para ela, talvez esses possam esperar. Lula tem prioridade.