Os dados divulgados pela organização de direitos humanos Anistia Internacional na quarta-feira 24 são alarmantes: em 98 países do mundo há torturas e maus tratos, 30 devolvem refugiados às suas nações de origem e 18 são palcos de crimes de guerra. Diante de um cenário de atrocidades, o relatório afirma que a Organização das Nações Unidas (ONU), o sistema criado após a Segunda Guerra Mundial para proteger os direitos, se tornou falho e ineficiente. “Toda a arquitetura de proteção de direitos humanos está ameaçada e esvaziada de seu papel. As grandes potências retiraram o apoio financeiro e resistem em consultar a ONU”, diz Átila Roque, diretor da ONG. Além de ditadores, generais sanguinários e policiais corruptos, chefes de Estado de países desenvolvidos também passam por cima desse sistema, tornando cada vez mais frequentes as violações. O documento afirma que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU usam seu poder de veto para impedir ações que visam acabar com crimes de guerra e contra a humanidade. E ainda: impedem a prestação de contas quando os crimes já foram cometidos.

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OBSOLETA
A assembléia da ONU, em Nova Iorque: sistema falho e ineficiente

De acordo com a Anistia Internacional, a ONU vive um momento de vulnerabilidade. A guerra na Síria, por exemplo, provocou a morte de 240 mil pessoas em cinco anos. Esse alto custo foi gerado a partir do impasse entre os Estados Unidos e a Rússia, que impediu que o Conselho de Segurança adotasse medidas duras para pôr fim ao conflito iniciado em 2011. “Quando as rachaduras começaram a surgir, percebemos que é o próprio sistema internacional de proteção de direitos humanos que precisava ser protegido”, diz o documento. A crise dos refugiados também reflete a perda de poder da organização. Segundo Roque, há uma falta de compromisso dos Estados em colocarem interesses nacionais acima da proteção da vida. “A ONU está falhando nessa missão e as nações usam seu poder para impedi-la de agir.”