Na semana passada, o Banco Central divulgou o retrato da economia brasileira em 2015: uma redução da atividade de mais de 4%. Para este ano, as previsões indicam uma outra queda, com estimativas que variam de 3% a 4,5%. Portanto, o que o Brasil vive hoje não é mais uma recessão, mas sim uma depressão econômica, que provocou mais um rebaixamento pela agência Standard & Poors.

Em situações normais, um quadro dessa gravidade faria com que as principais lideranças do País sentassem e dialogassem em busca de consensos. No entanto, o que se vê é o contrário: uma guerra política que nunca termina, como se a eleição de 2014 já tivesse emendado na de 2018. E pior: uma disputa ao estilo das antigas torcidas organizadas.

No último fim de semana, a Gaviões da Fiel, do Corinthians, ergueu faixas contra os “ladrões da merenda”, sem deixar claro se era um recado para o deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP), presidente da Assembleia Legislativa, que fez fama ao banir as torcidas organizadas dos estádios, ou para o governador Geraldo Alckmin. No meio da semana, grupos pró e anti-Lula se agrediram em frente ao Fórum da Barra Funda, em São Paulo, onde o ex-presidente estava intimado para depor sobre o caso Guarujá.

Esse ambiente de beligerância em nada contribui para que o Brasil encontre saídas viáveis para uma crise econômica que não para de fazer vítimas. A indústria paulista, por exemplo, abriu 2016 cortando 15 mil vagas. Empresas que já foram gigantes, como a Usiminas, anunciam prejuízos bilionários. E as lideranças políticas parecem se preocupar apenas com o próprio umbigo.

O que o Brasil de hoje demanda é diálogo entre lideranças responsáveis. É hora de mitigar os efeitos da crise nos setores de construção e infraestrutura, os mais duramente atingidos pela Lava Jato, e também de apoiar reformas estruturais que garantam a solvência do estado brasileiro a longo prazo. Com um mínimo de paz política, a recuperação brasileira será mais rápida do que muitos imaginam.