Por força da profissão, leio, ouço e vejo notícias o tempo todo. Não existe tarefa mais frustrante do que essa para quem ainda acredita que as qualidades superam os defeitos dos seres humanos. Charles Tatum, o jornalista inescrupuloso interpretado por Kirk Douglas no clássico filme “A montanha dos sete abutres” (1951), ensinou que “notícia ruim vende mais”. Pode ser, mas a quantidade de malfeitos e maldades estampadas nos jornais e revistas diariamente superam a criatividade do mais pessimista dos cronistas da vida cotidiana desse país chamado Brasil.

Leio agora que uma empresa de telefonia instalou uma antena de R$ 1 milhão perto do sítio que o ex-presidente Lula frequenta em Atibaia (SP). Citada, a Oi não comenta. Lula nega ser dono do imóvel, diz que não usa celular e não sabe de nada. Mas a antena está lá, impassível, como um feio monumento à política de compadrio que impera por toda a parte e perpetua o atraso no desenvolvimento da nação. Sinto até uma certa inveja, pois os celulares nunca funcionam no sítio de minha família em Ibiúna, a meros 72 km de São Paulo, apesar de sermos vizinhos da chácara que Fernando Henrique Cardoso possuía quando era presidente da República. Seu único legado por ali é uma árvore batizada com o nome de Ruth Cardoso às margens da represa de Itupararanga. Se FHC privatizou a telefonia “no limite da irresponsabilidade” (como sugeriu um de seus comandados na época) e não aproveitou para instalar uma antena próxima a seu sítio, isso o torna mais confiável que Lula?

Viro a página e descubro que outra empresa, a Brasif, teria sido usada por FHC para enviar US$ 3 mil por mês à jornalista Mirian Dutra, sua ex-amante exilada em Madri. FHC refuta a denúncia, mas admite ajudar financeiramente um filho de Miriam, cuja paternidade ele não assume. Não julgo a questão moral envolvendo assuntos íntimos – pessoas adultas podem frequentar o sítio de quem quer que seja e amarem quem bem quiserem, desde que seja de comum acordo e que todos arquem com as consequências de seus atos. Fico espantado com a imoralidade e a ilegalidade de algumas ações de indivíduos e empresas que bajulam autoridades para tirarem melhor proveito das transações que mantêm com o governo e as estatais.

Esse tipo de conluio é inaceitável, pois quem paga a conta da generosidade privada com certos governantes somos todos nós, na forma de impostos ou serviços mais caros. A propina, mesmo que seja um presentinho em formato de antena ou depósitos em contas de terceiros no exterior, sempre sai do bolso dos cidadãos, por mais miseráveis que sejam. Quem mama nas divinas tetas do Estado brasileiro e profana a ética e os bons costumes para continuar mamando o leite bom, em detrimento do próximo e do concorrente, ajuda a condenar o País ao atraso. Corruptos e corruptores fazem do Brasil uma republiqueta de bananas que faz e exporta aviões, mas é incapaz de controlar um simples mosquito assassino.

Para estragar o dia, uma última notícia: enquanto o aedes aegypti ganha as manchetes por transmitir o vírus zika e causar microcefalia em bebês, a sífilis dispara e causa cegueira e surdez a recém-nascidos cujas mães não foram tratadas por falta de penicilina benzatina no sistema público de saúde. Onde foi parar a verba que estava ali para evitar essa tragédia? Provavelmente, foi mal gasta ou desviada. O desprezível Charles Tatum não faria pior.