Enquanto a recessão mina as expectativas de empresários, investidores e consumidores, um setor da economia sofre em particular: a indústria. Os números negativos se tornaram rotina nos últimos dois anos. Em 2015, a produção industrial, que já havia caído 3% em 2014, encolheu outros 8,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os segmentos mais afetados, a fabricação de veículos automotores recuou 25,9% e a de equipamentos de informática e eletroeletrônicos, 30%. Os bens de capital despencaram 31,9%. O quadro confirma o aprofundamento de um processo de desindustrialização, em que o setor perde importância no conjunto do Produto Interno Bruto (PIB) e no mercado de trabalho. Diferentemente dos países desenvolvidos, no Brasil essa perda de participação não vem acompanhada de um aumento de produtividade. Como resultado, estamos cada vez menos competitivos e menos inovadores.

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AJUSTE
Apesar da queda de 25% na indústria automotiva (acima, fábrica da Fiat
em Betim), o ministro Nelson Barbosa defende mais impostos 

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“Os bens de consumo duráveis e de capital são aqueles que precisam de crédito e algum nível de confiança para crescer”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “É justamente o contrário que tem acontecido.” No ano passado, o ajuste fiscal penalizou, sobretudo, o investimento público e consequentemente a demanda da indústria. Não bastasse isso, o aumento da inflação e do desemprego tirou o poder de compra dos consumidores num momento em que os juros subiam e o crédito ficava mais escasso. “Esse cenário criou uma crise de confiança e a última coisa que os empresários pensam agora é em ampliar a capacidade produtiva”, afirma Cagnin.

As estatísticas mostram que a última década foi especialmente cruel para a indústria, mas que sua derrocada é antiga. Se, em 2004, ela tinha uma participação de 28,7% do PIB, no primeiro semestre de 2015 esse número já havia caído para 21,9%. Os critérios do IBGE mudaram em 1999, mas, apenas a título de comparação, a mesma proporção chegava a quase 48% há 30 anos. “O Brasil tem pulado etapas”, diz Haroldo Silva, do Conselho Regional de Economia. “Nossa indústria é diversificada e com capacidade de reação. Não tem por que abandonar isso e se voltar para um setor que não tem capacidade de receber todo mundo, como é o de serviços.” Para os especialistas, a atual taxa de câmbio, com o dólar próximo de R$ 4, corrigiu uma distorção que tirava competitividade da indústria nacional, mas seu efeito sobre as expectativas do setor ainda não apareceu nos números. Por mais que algumas empresas estejam se preparando para exportar, o recente aumento da carga tributária, que inclui a proposta de volta da CPMF, como defende o Ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, inibe os investimentos.

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Fotos: Pedro Silveira/Folhapress; Ueslei Marcelino/REUTERS 


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