Na última semana, declarações de atletas estrangeiros, comitês olímpicos internacionais e políticos causaram alarde na comunidade esportiva mundial, fazendo soar um sinal de alerta no País. Na terça-feira 9, o presidente do Comitê Olímpico do Quênia, Kipchoge Keino, afirmou que “obviamente” não levará esportistas ao Rio em caso de epidemia de zika. Enquanto isso, o comitê dos Estados Unidos disse que competidores deveriam considerar deixar de participar dos Jogos. A preocupação no país parte até de candidatos da disputa à Casa Branca: dois deles concordam, às portas das Olimpíadas, com a quarentena de pessoas viajando do Brasil. O cuidado é justificável. O zika vírus assola o Brasil neste verão e é o maior suspeito de causar um surto de microcefalia em recém-nascidos. Mas o boicote ao evento não encontra respaldo na ciência. “Os atletas estão errados em não comparecer porque no inverno a proliferação do mosquito Aedes não é alta”, afirma Gúbio Soares, da Universidade Federal da Bahia, um dos pioneiros na identificação do zika no País.

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DE FORA
O Quênia, do medalhista David Rudisha (acima), avalia não participar dos
Jogos. Goleira dos EUA, Hope Solo (abaixo) também fala em boicote

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Após as declarações alarmistas, os comitês do Quênia e dos EUA tentaram minimizar as afirmações, mas atletas já falavam em boicote. “Se precisasse escolher agora, não iria à Olimpíada” disse Hope Solo, goleira da seleção americana de futebol. “Nunca correria o risco de ter um filho doente.” Remador britânico vencedor de dois ouros, Andrew Triggs comparecerá, mas sua mulher o verá de casa. “Para qualquer um que quer uma família, o zika é um perigo real e assustador.”

Fora dos campos, dois republicanos que participam das prévias presidenciais americanas também soaram alarmes. No sábado 6, Chris Christie defendeu barreiras a viajantes vindos do Brasil às vésperas das Olimpíadas. Ben Carson, seu concorrente e um neurocirurgião aposentado, declarou que, se houver evidências de que a infecção está se espalhando, ele também recorreria ao método. No entanto, quarentenas não seriam um modo eficaz de impedir a contaminação. Elas falharam na contenção da febre suína e da gripe aviária, por exemplo, e produzem um desastre econômico para os países afetados. Em três nações africanas vítimas do ebola, as perdas chegaram a US$ 1,6 bilhão em 2015, de acordo com o Banco Mundial. Já Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai perderam até 1,5% do PIB por conta da febre suína em 2009, segundo a revista “The Economist”. “Quarentena tem apelo midiático e político, mas seria absurda em termos científicos”, afirma o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, supervisor médico do ambulatório do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo (SP). “O custo é alto e o benefício é pequeno.”

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”Quarentena tem apelo midiático e político, mas seria absurda em termos científicos”
Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, infectologista

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Em nota, o Ministério da Saúde diz que o País está preparado para proteger os turistas. O Comitê Olímpico Internacional informou que está trabalhando para minimizar o contato de visitantes com focos do mosquito. Os médicos ouvidos por ISTOÉ lembram ainda que o zika representa um risco maior para mulheres grávidas, condição improvável para atletas de alto nível. “Para a maioria, as consequências não são graves”, diz Oliveira.

Fotos: AP Photo/David J. Phillip; AP Photo/Rich Schultz; FELIPE GABRIEL 


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