Um monsenhor argentino, com dupla nacionalidade italiana, em conluio com uma freira, um barão, uma princesa belga e a esposa de um herdeiro de trono europeu. A fachada para o elaborado esquema de lavagem de dinheiro seria uma fundação humanitária comandada pelo religioso. As vítimas, cerca de 300 pessoas idosas, entre belgas, franceses, e italianos, enredadas num golpe de 30 milhões de euros (R$ 135,4 milhões). Como pano de fundo dessa trama, um cenário de luxo e riqueza, como uma vila do século XV na Toscana, um grande sítio arqueológico na Sicília e obras de arte valiosíssimas. O tesouro em espécie estava espalhado em contas correntes na Alemanha, Luxemburgo, Estados Unidos e Panamá. O enredo que poderia servir de roteiro para um filme rodado na bela Itália se desenrolou na semana passada, às portas do Vaticano, em mais um escândalo envolvendo um de seus membros. O monsenhor Patrizio Benvenuti, 64 anos, foi preso pela Polícia de Finanças quando subia os degraus da aeronave que o levaria para as Canárias, onde vive. Até a prisão foi cinematográfica.

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OPULÊNCIA
Acima., o ítalo-argentino Patrizio Benvenuti, preso pela polícia na semana
passada. Sede do sítio arqueológico na Sicíla (abaixo).

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Benvenuti foi capelão militar na diocese italiana de Chiavari e integrante do tribunal eclesiástico da Santa Sé. Valia-se de uma suposta proximidade com o Vaticano para arrecadar doações para sua fundação Kepha. A polícia também tem mandado de captura internacional para o empresário francês Christian Ventisett, braço direito do capelão nos golpes. Também podem estar envolvidos no esquema o barão belga Jean Christophe de Fierlant Dormer e a princesa Stephanie de Lannoy, esposa do príncipe William, herdeiro do trono de Luxemburgo, que eram sócios, mas talvez não tivessem conhecimento da ação fraudulenta. A polícia desconfia que foram colocados no negócio por causa de sua influência e contatos importantes.

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Acima, a suntuosa mansão na Toscana, onde ele morou

A investigação começou depois que uma ex-freira foi à polícia denunciar que havia recebido documentos bancários que acusavam a movimentação de centenas de milhares de euros e que a religiosa não podia explicar. Ela confessou que havia assinado contratos relacionados à empresa Opus, ligada à farsa do padre Benvenuti, enquanto vivia com ele em Roma, impulsionada pela confiança que depositava no religioso. Também afirmou que por muitos anos o ajudou a organizar jantares beneficentes, com a intenção de atrair investidores. À medida que a apuração se desenrolava, os investigadores encontravam um tesouro em torno do monsenhor (leia quadro).

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Já em prisão domiciliar, Benvenuti divulgou uma longa nota se defendendo e concedeu uma entrevista por telefone ao jornal italiano “La Stampa”. Disse que, na operação, há nobres e banqueiros envolvidos, mas quem acabou preso foi ele, um padre, enquanto outros fugiram para o Panamá. Justificou que morava numa casa do século XV na Toscana porque era de família rica, filho de industriais que fizeram fortuna na Argentina e se mudaram para Genova (ITA). Confirmou os jantares de gala que promovia, denunciados pela ex-freira: “Eram para financiar projetos sociais.” E afirmou que não estava fugindo para as Canárias, apenas indo descansar à beira-mar. “Eu só queria passar minha velhice lá, no silêncio e na paz…” Definitivamente, para os católicos, era melhor que essa história fosse mesmo um filme de ficção.

Foto: Riccardo De Luca/AP 


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