O Carnaval do Rio de Janeiro não ficou imune à recessão que atinge o País. As empresas que costumavam patrocinar os luxuosos desfiles recuaram nesta temporada e a expectativa é que a festa mais popular do Brasil atravesse a avenida de forma diferente. Saem os enredos patrocinados e entram outros, exaltando a cultura e personalidades brasileiras. A crise não afugentou o público das frisas, cadeiras especiais e arquibancadas, já esgotados. Mas 20 camarotes, dentre os 460, ainda não foram ocupados – ao contrário do ano passado. E camarotes ‘de peso’ foram fechados, como Devassa, Unimed, Cabral Garcia e o Libra, além do espaço do governo estadual.

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SUOR
Funcionário da União da Ilha do Governador trabalha em carro
alegórico: enredos prometem boas surpresas

“Em compensação, desde 2012 não esgotamos as arquibancadas especiais com tanta antecedência”, disse Heron Schneider, responsável pela Central de Vendas da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). Guilherme Barros, sócio do Folia Tropical, que ocupa uma área de 1,6 mil metros quadrados, admite ter feito mudanças para adequar o orçamento menor deste ano. Ele exemplifica dois cortes. “Não gastamos um centavo da verba que antes era destinada a anúncios em jornais e, em vez disso, usamos só a internet. Nos desfizemos da figura da musa também.”

“O dinheiro acabou, gente!”, diz Neguinho da Beija Flor, que garante que, “mesmo assim, a escola cujo nome ele adotou virá mais bonita ainda” contando a história da avenida Marquês de Sapucaí, onde fica o Sambódromo, no Rio. Este ano, todos entoam o mesmo refrão: criatividade em substituição ao luxo. A Mangueira, que também não conta com dinheiro corporativo, trocou as plumas de origem animal por artificiais. “O custo chega a ser 80% inferior”, declarou o diretor de carnaval Júnior Schal. Mas para os integrantes do Grupo Especial, que faziam carnavais com orçamentos estratosféricos, está difícil contar apenas com os R$ 6 milhões resultantes dos percentuais pelos direitos de transmissão da Rede Globo e pela bilheteria, além do arrecadado nos eventos das quadras e vendas de discos. “Não captei um centavo sequer”, afirmou Ney Filardi, presidente da União da Ilha. A agremiação homenageia os Jogos Olímpicos 2016. Já o carnavalesco da Unidos da Tijuca, Mauro Quintaes disse que, “por sorte, o enredo pede elementos mais simples, como juta, capim.” A Tijuca vai falar…da Tijuca mesmo.

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No mais badalado camarote do carnaval carioca, o da Boa (Antarctica), tudo continua igual, segundo a diretora de marketing Maria Fernanda Albuquerque. “Aqui não tem crise”, disse ela à ISTOÉ. Houve diminuição de 200 convites, mas ela garante que foi devido “a ajustes para a melhoria da qualidade e bem-estar dos VIPs e nada tem a ver com crise.” Também há uma outra modificação no perfil da musa, que será um nome ligado ao samba. No mais, a Boa é um dos raros camarotes que continuam 100% para convidados. Outros espaços estão em ritmo de combo canavalesco: dão 25% de desconto, uma camisa, passagem ida e volta de metrô e parcelamento em até 12 vezes.