Em campanha há pouco mais de uma semana para a liderança do PMDB, Hugo Motta (PMDB-PB) adota o tom pacificador em seu discurso. Em seu segundo mandato, o parlamentar de 26 anos tem se apresentado como o único capaz de reunificar a bancada, cuja divisão atingiu seu ápice no final do ano passado em meio ao debate sobre o impeachment da presidente Dilma. “Um líder precisa ser presente e ter a capacidade de ouvir, de respeitar as opiniões dos colegas e de reunir o partido após uma eleição”, disse o candidato à ISTOÉ.

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SIMBIOSE
Para Eduardo Cunha, Hugo Motta pacificará o partido na Câmara

Conhecido pela proximidade com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e por sua atuação como presidente da CPI da Petrobras no ano passado, Motta foi escalado pela ala peemedebista anti-Dilma para enfrentar o atual líder da sigla, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Deputados como Osmar Terra (PMDB-RS), Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Carlos Marun (PMDB-MS), declaradamente a favor do impeachment, compõem o núcleo duro da campanha e têm acompanhado o candidato em boa parte de suas atividades eleitorais.

Oficialmente, entretanto, Motta rejeita o rótulo de oposicionista e diz que não prometeu nenhuma atuação contra o governo para ter apoio na bancada. “O problema é que antes as decisões vinham de fora pra dentro e, comigo, virão de dentro da bancada para fora”, argumenta. Nos últimos dias, o candidato conversou pessoalmente com ministros do Planalto e garantiu que, caso eleito, o diálogo será mantido. A estratégia contribui para minimizar a influência da presidente Dilma Rousseff sobre a disputa. “Se o governo pode ter dois candidatos, por que ter só um? O governo tem discernimento de que é necessário separar o diálogo com a bancada e diálogo com o Eduardo Cunha”, relativiza o paraibano que, recentemente, havia se posicionado contra o impeachment.

Nos bastidores, contudo, Cunha tem se esforçado ao máximo para emplacar a vitória de Motta. Segundo peemedebistas, o presidente da Câmara teria dito a alguns correligionários que a vitória do paraibano seria uma das formas de garantir sua permanência no comando da Casa e até mesmo de concluir o mandato. Publicamente, Cunha segue o discurso adotado por Motta. “O Picciani virou líder do governo na bancada, por isso apoio o Hugo Motta. Não porque ele tenha algum compromisso comigo, mas porque ele decidiu que vai tirar sempre as posições da bancada. Ele vai pacificar o grupo”, disse o presidente da Câmara à reportagem.

Entre Picciani e seus aliados, por outro lado, o clima é de otimismo. O grupo calcula que teria aproximadamente 40 dos 67 votos da bancada. A estimativa é feita com base na lista de 36 assinaturas que garantiu sua recondução ao posto no final de dezembro, além de algumas adesões mais recentes. Uma das reviravoltas mais comemoradas foi o apoio repentino de seu antigo rival, Leonardo Quintão (MG), até pouco tempo candidato à liderança com apoio da oposição. O grupo também aposta, por exemplo, na proximidade entre o Planalto e o governador catarinense Raimundo Colombo (PSD-SE) para convencer alguns peemedebistas locais, embora a maioria do estado seja declaradamente pró-impeachment.   

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Embora Motta seja mais próximo de Michel Temer do que Picciani, o vice-presidente da República promete neutralidade na campanha pela liderança da Câmara. Após o desgaste causado por disputas internas ao partido, o presidente da sigla se esforça para reunificar o PMDB e enfraquecer a resistência à sua se reeleição ao comando partidário. Não à toa, o nome dado à sua sequência de viagens estaduais foi “Caravana pela Unidade”. Também há uma avaliação de que poderia ser prejudicial à imagem de Temer um alinhamento muito direto com o grupo de Eduardo Cunha, de quem ele tem tentado se descolar nos últimos meses. Coincidência ou não, porém, em meio à disputa pela liderança, Temer decidiu iniciar sua caravana justamente em estados de maioria oposicionista na Câmara como Paraná, Santa Catarina e a Paraíba – reduto de Motta.

Foto: Alan Marques/Folhapress