A ex-guerrilheira Wanda, hoje ministra Dilma Rousseff, já foi de tudo nas últimas semanas. Católica, protestante, evangélica e ecumênica. Até aí, tudo bem. No jogo eleitoral brasileiro, aceita-se que um candidato acenda velas para todos os santos. Dias atrás, no entanto, ela ganhou um papel totalmente incompatível com a sua figura. Foi escolhida como chefe da delegação brasileira na Conferência do Clima em Copenhague, que não será um encontro qualquer.

Em dezembro, na Dinamarca, o Brasil estará na marca do pênalti, como um dos principais causadores do aquecimento global, não só em função das queimadas da Amazônia como também pelas emissões de gás metano na pecuária. E quem nos representará? Ela mesma, a mãe do PAC, madrinha das empreiteiras, entusiasta das hidrelétricas na Amazônia, símbolo da economia fóssil, com seu pré-sal, e responsável direta pela demissão da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva – esta, sim, uma heroína global da causa ecológica.

Difícil imaginar uma escolha mais desastrada. Talvez os marqueteiros do Planalto, com a arrogância típica dos que se julgam acima do bem e do mal, tenham imaginado que seria bom ter uma imagem da ministra na Conferência do Clima para ser usada na campanha eleitoral de 2010. Só que a agenda de Copenhague não passa por Brasília – lá na Dinamarca, pouquíssima gente prestará atenção ao que Dilma tem a dizer.

E como se a bandeira verde não lhe bastasse, Dilma quer também assumir seu lado cor-de-rosa. Ao ser acusada de antecipar sua campanha à revelia da lei eleitoral, o que ela faz de forma cada vez mais escancarada, a ministra disse ser vítima de preconceito apenas porque é mulher. A guerrilheira que já pegou em armas quer ser agora a candidata do sexo frágil, aquela que de manhã dá entrevistas em programas televisivos de culinária e à tarde frequenta encontros de socialites.

O único problema é que, no processo de construção da imagem da ministra, pouca coisa resta de verdadeiro. De verde e rosa, só a coincidência de ter ido visitar o Morro da Mangueira, na última semana. Dilma foi participar de mais uma inauguração do PAC – a de uma quadra esportiva que já estava pronta havia mais de um ano. Verde, se isso for sinônimo de ecologista, ela não é. E rosa, se essa é a cor de uma esquerda light, também não. Os papéis assumidos pela ministra nas últimas semanas têm sido tantos e tão variados que uma dúvida inquietante fica pendendo no ar: quem realmente ela é? Talvez nem Dilma saiba mais responder.