O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vive um dos momentos mais críticos de seus 11 anos de governo. Sua popularidade despencou, desgastada especialmente pelas medidas de força contra a imprensa e a oposição e as trapalhadas na economia que levaram o país à beira da recessão. Apesar da insatisfação generalizada que ameaça o desempenho de seu partido nas eleições legislativas de 2010, o coronel venezuelano continua recebendo tratamento privilegiado do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

O motivo é mais comercial que ideológico: em cinco anos, as exportações brasileiras para a Venezuela cresceram 758% e o Brasil acumula um saldo comercial de US$ 4,6 bilhões. Para compensar o desequilíbrio, Lula desembarcou em Caracas na quintafeira 29 com mais um pacote de bondades econômicas e uma boa nova: a aprovação da Venezuela como sócia permanente do Mercosul, pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.

"Estou convencido de que os senadores brasileiros amadureceram suas decisões. E a grande maioria tem consciência da importância dessa adesão", disse Lula. A interlocutores, o presidente comentou que "já era hora de colocar um ponto final" numa discussão que se arrastou por meses e foi superfaturada pela oposição. Foi a resistência de José Sarney que assustou Lula, e o levou a entrar pessoalmente na briga. Depois do rolo compressor, o protocolo de adesão da Venezuela foi aprovado com 12 votos a cinco. Agora vai a plenário. O argumento principal dos governistas para a aliança é que a Venezuela importa 70% do que consome. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) acha que "a região Norte do Brasil poderá se beneficiar muito com a parceria".

A vitória chega num momento sensível para a Venezuela, cujo PIB encolheu 2,4% no segundo trimestre deste ano, afetado pela queda do preço do petróleo e pela desaceleração da produção industrial e do consumo. Há duas semanas, Chávez apelou para que a população restrinja a três minutos o banho diário. Tudo por falta de investimento. Nesse contexto, a entrada da Venezuela ganha importância. Até a oposição a Chávez defende o ingresso do país no bloco. "O povo venezuelano não pode ser punido com o isolamento por causa do governo Chávez", disse o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma.

O cientista político Alcides Costa Vaz, da Universidade de Brasília acha que a adesão "aumenta a probabilidade de se ter mais influência sobre a Venezuela". Esta percepção está afinada com a do Itamaraty de que é melhor ter a Venezuela ao lado do que isolada. "Mas não há garantia de que Chávez não vá incorrer em práticas de autoritarismo."

Em Caracas, Lula inaugurou a primeira agência da Caixa Econômica no país e firmou acordos de cooperação, além de, finalmente, fechar a parceria entre a Petrobras e a estatal venezuela PDVSA na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Lula reiterou a promessa de criar 200 fábricas no país e aportar US$ 4 bilhões no Banco do Sul, que se dedicará a projetos de infraestrutura na região. É o governo brasileiro financiando o PAC bolivariano.

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