Há dez semanas, o apresentador Gugu Liberato estreou seu novo programa na Rede Record e se viu cercado de expectativas. Numa das contratações mais surpreendentes da televisão brasileira, ele decidiu abandonar o SBT depois de 35 anos e encarar pela primeira vez como concorrente o seu antigo patrão e mentor, Silvio Santos. Naquela estreia, Gugu entrou no ar tão nervoso que até errou o nome de sua nova atração. Passado o tempo – e o susto -, agora é Gugu quem se tornou alvo de preocupação dos concorrentes. Com uma trajetória cada vez mais ascendente nas apurações do Ibope, o apresentador não apenas vem batendo Silvio Santos como passou a encostar na maior atração das noites de domingo, o "Fantástico".

No domingo 25, a revista eletrônica da Rede Globo teve a sua pior audiência em São Paulo desde 1973: 18 pontos de média. Na medição prévia do Ibope, Gugu chegou a liderar por 25 minutos.

Um dia depois, a Globo festejou o índice consolidado, que atribuía apenas 16 pontos de média para a Record. "Apenas" é força de expressão: na verdade, Gugu mantém-se acelerado e avança para se tornar o grande apresentador dos domingos.

Do lado da Record, a comemoração é ampla. "Na verdade, entre as 20h e a meia-noite, nós fizemos 16,4 e a Globo 16,3. Isso é estrondoso. Algo impossível de acontecer há um ano", diz Homero Salles, diretor do "Programa do Gugu". Habituado a acompanhar o seu desempenho minuto a minuto – é uma exigência em seus contratos -, Gugu sabe o valor de cada décimo de audiência e o momento de somar mais pontos à concorrida guerra dominical. Como faz um programa ao vivo, entra nas brechas deixadas pelo concorrente. No domingo 25, ele abusou da tática.

foto: Eduardo Knapp/Folha Imagem
AO VIVO Gugu no comando do quadro Essa Nota Vale Uma Nota: aproveitando a fragilidade da concorrência

"É uma estratégia de guerrilha", diz Salles, que tem aproveitado os instantes em que o "Fantástico" apresenta matérias mais fracas para pisar no acelerador. Ele diz que, tirando o quadro Sonhar Mais Um Sonho, que dura 1h48 em média, o resto do programa fica todo em aberto. "É feito no calor da hora, no feeling". O improviso calculado tem dado resultado.

Na sua estreia, no dia 30 de agosto, Gugu foi criticado por levar para a nova emissora dois quadros que fazia no SBT – De Volta para o Meu Aconchego, que ajuda as pessoas a retornar para sua cidade de origem, e o já citado Sonhar Mais Um Sonho, que tirou o título de um verso da música "Sonho Impossível", versão de Chico Buarque para o tema da peça "O Homem de La Mancha". Esse quadro, que é considerado a "espinha dorsal" do programa, responde pela metade de sua duração. Usa a mesma fórmula de similares europeus e americanos, como "Extreme Makeover", exibido pelo canal a cabo People+Arts: reformar a casa de uma pessoa que não tem dinheiro para fazê-lo. Luciano Huck também promove essa boa ação em seu "Caldeirão", com a ajuda do arquiteto dos modernos Marcelo Rosenbaum. Mas no "Programa do Gugu" a atração ganha lances alucinantes. Primeiro porque as casas a serem reformadas – que chegam a ser demolidas e refeitas em 15 dias – são muito bem escolhidas. Segundo, porque a documentação do processo impressiona. Com sua marca peculiar, a produção de Gugu batizou um trator de Pica-pau (sua retroescavadeira é coberta pelo famoso personagem do desenho animado) e o utiliza literalmente para transformar em entulhos uma residência inteira.

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A sequência tem direito a câmeras aéreas e edição clipada. "Esse quadro teve um acréscimo positivo na parte de finalização e o que era bom ficou melhor", diz Salles.

Acostumado ao orçamento controlado do SBT, onde dividia com a emissora os custos de produção, Gugu tem recebido carta branca para gastos extras e, com isso, pode explorar à vontade a linha assistencialista, uma tendência da tevê aberta mundial. Existe até um quadro que ajuda pessoas a sair do vermelho, chamado Devo Uma Nota. Em contrapartida, ele agora arregaça as mangas e sai mais para gravar externas. É algo que não aprecia muito, pois acha que rende mais ao vivo. Durante a semana, Gugu cumpre duas saídas fixas: uma para anunciar ao candidato a uma casa nova que ele foi o escolhido e outra para entregar a residência reformada. A última felizarda foi Mercedes Zagheti, da cidade de Itapetininga, no interior de São Paulo. Sua filha Eclair contou que tinha vergonha de receber visitas na residência, repleta de rachaduras e mofo nas paredes. Mas não se incomodou em mostrá-la para milhões de telespectadores que sintonizaram o "Programa do Gugu". Segundo Salles, esse tipo de exibição pública tem um lado catártico que o apresentador sabe conduzir muito bem: "As pessoas estão cansadas de celebridades. Querem ver anônimos no ar." E se tem algo que Gugu sabe fazer é transformar anônimos em famosos. Nem que seja por 15 minutos.

foto: Eduardo Knapp/Folha Imagem


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