04/11/2009 - 10:00
Há dez semanas, o apresentador Gugu Liberato estreou seu novo programa na Rede Record e se viu cercado de expectativas. Numa das contratações mais surpreendentes da televisão brasileira, ele decidiu abandonar o SBT depois de 35 anos e encarar pela primeira vez como concorrente o seu antigo patrão e mentor, Silvio Santos. Naquela estreia, Gugu entrou no ar tão nervoso que até errou o nome de sua nova atração. Passado o tempo – e o susto -, agora é Gugu quem se tornou alvo de preocupação dos concorrentes. Com uma trajetória cada vez mais ascendente nas apurações do Ibope, o apresentador não apenas vem batendo Silvio Santos como passou a encostar na maior atração das noites de domingo, o "Fantástico".
No domingo 25, a revista eletrônica da Rede Globo teve a sua pior audiência em São Paulo desde 1973: 18 pontos de média. Na medição prévia do Ibope, Gugu chegou a liderar por 25 minutos.
Um dia depois, a Globo festejou o índice consolidado, que atribuía apenas 16 pontos de média para a Record. "Apenas" é força de expressão: na verdade, Gugu mantém-se acelerado e avança para se tornar o grande apresentador dos domingos.
Do lado da Record, a comemoração é ampla. "Na verdade, entre as 20h e a meia-noite, nós fizemos 16,4 e a Globo 16,3. Isso é estrondoso. Algo impossível de acontecer há um ano", diz Homero Salles, diretor do "Programa do Gugu". Habituado a acompanhar o seu desempenho minuto a minuto – é uma exigência em seus contratos -, Gugu sabe o valor de cada décimo de audiência e o momento de somar mais pontos à concorrida guerra dominical. Como faz um programa ao vivo, entra nas brechas deixadas pelo concorrente. No domingo 25, ele abusou da tática.
AO VIVO Gugu no comando do quadro Essa Nota Vale Uma Nota: aproveitando a fragilidade da concorrência
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"É uma estratégia de guerrilha", diz Salles, que tem aproveitado os instantes em que o "Fantástico" apresenta matérias mais fracas para pisar no acelerador. Ele diz que, tirando o quadro Sonhar Mais Um Sonho, que dura 1h48 em média, o resto do programa fica todo em aberto. "É feito no calor da hora, no feeling". O improviso calculado tem dado resultado.
Na sua estreia, no dia 30 de agosto, Gugu foi criticado por levar para a nova emissora dois quadros que fazia no SBT – De Volta para o Meu Aconchego, que ajuda as pessoas a retornar para sua cidade de origem, e o já citado Sonhar Mais Um Sonho, que tirou o título de um verso da música "Sonho Impossível", versão de Chico Buarque para o tema da peça "O Homem de La Mancha". Esse quadro, que é considerado a "espinha dorsal" do programa, responde pela metade de sua duração. Usa a mesma fórmula de similares europeus e americanos, como "Extreme Makeover", exibido pelo canal a cabo People+Arts: reformar a casa de uma pessoa que não tem dinheiro para fazê-lo. Luciano Huck também promove essa boa ação em seu "Caldeirão", com a ajuda do arquiteto dos modernos Marcelo Rosenbaum. Mas no "Programa do Gugu" a atração ganha lances alucinantes. Primeiro porque as casas a serem reformadas – que chegam a ser demolidas e refeitas em 15 dias – são muito bem escolhidas. Segundo, porque a documentação do processo impressiona. Com sua marca peculiar, a produção de Gugu batizou um trator de Pica-pau (sua retroescavadeira é coberta pelo famoso personagem do desenho animado) e o utiliza literalmente para transformar em entulhos uma residência inteira.
A sequência tem direito a câmeras aéreas e edição clipada. "Esse quadro teve um acréscimo positivo na parte de finalização e o que era bom ficou melhor", diz Salles.
Acostumado ao orçamento controlado do SBT, onde dividia com a emissora os custos de produção, Gugu tem recebido carta branca para gastos extras e, com isso, pode explorar à vontade a linha assistencialista, uma tendência da tevê aberta mundial. Existe até um quadro que ajuda pessoas a sair do vermelho, chamado Devo Uma Nota. Em contrapartida, ele agora arregaça as mangas e sai mais para gravar externas. É algo que não aprecia muito, pois acha que rende mais ao vivo. Durante a semana, Gugu cumpre duas saídas fixas: uma para anunciar ao candidato a uma casa nova que ele foi o escolhido e outra para entregar a residência reformada. A última felizarda foi Mercedes Zagheti, da cidade de Itapetininga, no interior de São Paulo. Sua filha Eclair contou que tinha vergonha de receber visitas na residência, repleta de rachaduras e mofo nas paredes. Mas não se incomodou em mostrá-la para milhões de telespectadores que sintonizaram o "Programa do Gugu". Segundo Salles, esse tipo de exibição pública tem um lado catártico que o apresentador sabe conduzir muito bem: "As pessoas estão cansadas de celebridades. Querem ver anônimos no ar." E se tem algo que Gugu sabe fazer é transformar anônimos em famosos. Nem que seja por 15 minutos.