Um ano depois de estourar a crise econômica mundial, os grandes tubarões do mercado financeiro estão de volta em busca de lucro fácil à custa da ingenuidade dos pequenos investidores. A estratégia é a de sempre: alimentar fortes oscilações das bolsas e ganhar dinheiro com o sobe e desce das cotações. Na semana passada, os especuladores deram prova de seu poder e fizeram peteca do Ibovespa, que já acumulava alta de 112% em um ano. Na quarta-feira 28, o índice da Bolsa de Valores de São Paulo amargou o maior tombo diário desde 2 de março, com queda de 4,75%. Mas, no dia seguinte, fechou em alta de 5,91%. Explicações não faltaram. A causa da queda teria sido a venda de casas novas nos Estados Unidos, que ficou aquém do esperado. E na origem da alta veio a informação de que a economia americana saiu da recessão. Tudo não passou de especulação. “Tem gente graúda que se dá bem com essas oscilações. Mas os pequenos investidores devem tomar cuidado. Para não perder, devem esperar o mercado acalmar ou investir aos poucos”, diz Rodrigo Bresser-Pereira, diretor da Bresser Administração de Recursos.

Todo cuidado é pouco, pois, na bolsa, prevalece a lógica do darwinismo de mercado, em que os mais fracos são expelidos sem piedade. O megainvestidor George Soros diz: “Os mercados estão em constante estado de incerteza e para fazer dinheiro é preciso descontar a obviedade e apostar no inesperado.” Mas quem consegue capital para isso ou tem sangue-frio? Os riscos aumentam por causa da dimensão do mercado brasileiro, que o tornam mais volátil.

“Operações de poucos investidores de grande porte podem jogar a bolsa para baixo ou impulsionar para uma grande valorização”, diz o analista Leonel Pitta, da Lopes Filho & Associados. Ou seja, os grandes especuladores, no Brasil, têm força suficiente para movimentar a gangorra. Quando a bolsa sobe, os grandes especuladores realizam seus lucros, forçam a baixa e deixam os investidores inexperientes a ver navios. Quando não há uma justificativa razoável, a queda é atribuída a eventos externos, um índice qualquer que demonstre fragilidade da economia americana. Sempre haverá uma explicação para respaldar a ação dos especuladores.

O economista- chefe do Banco ABC Brasil, Luiz Otávio de Souza Leal, prevê que, daqui para a frente, o que aconteceu na semana passada será mais regra do que exceção. Leal explica que os investidores estrangeiros se retraíram, depois que o governo divulgou a taxação de IOF de 2% para o capital externo. Os players locais são imediatistas e têm por hábito mudar de carteira com mais frequência. “Se o investidor comum se apavorar, vai vender na baixa”, adverte Leal.
O importante é que os pequenos investidores não se deixem influenciar pelas marolas provocadas pelos grandes tubarões. Devem ficar atentos não às oscilações dos índices, mas, sim, ao que acontece na economia real. As coisas melhoraram um pouco nos Estados Unidos, no Reino Unido e Japão. O Brasil também continua em franca recuperação, com a retomada sem pressão inflacionária em 2010 e sem o risco iminente de aumento de juros. Esse é mundo real que o investidor deve levar em conta. O resto é espuma.