Por caminhos tortos, sem que o tema tenha sido amplamente debatido pelo parlamento e pela sociedade, o Brasil chegou ao modelo de financiamento público da política. O lance definitivo ocorreu nesta semana, quando a presidente Dilma Rousseff sancionou o valor de R$ 819 milhões para o fundo partidário em 2016. É uma quantia 163% maior do que aquela que havia sido proposta inicialmente pelo governo.

Dilma foi convencida pelos partidos políticos a sancionar este ano diante do argumento de que, sem um substancial aumento, as eleições municipais de 2016 seriam inviáveis. Primeiro, porque o financiamento privado foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo, porque nenhum dos tradicionais doadores, em sã consciência, irá se aventurar no pântano do caixa dois, depois que praticamente todos os grandes empreiteiros do País foram presos.

Para quem ainda defendia o sistema de doações privadas, a prova inconteste de que esse modelo contamina e corrompe a democracia surgiu também na semana passada, com o vazamento seletivo das mensagens do celular de Léo Pinheiro. Sem o menor pudor, o ex-presidente da OAS tentava converter homens públicos de todos os partidos em despachantes de seus interesses privados. E quando algumas lideranças começaram a discutir o financiamento público, ele protestou. “Ficou louco. Isso é hora de demonizar empresário?”

De fato, não faz o menor sentido demonizar empresários, porque nenhuma sociedade prospera sem empreendedores dispostos a assumir riscos. O que não cabe, em nenhuma hipótese, é que empresas sejam capazes de sequestrar a agenda pública de um País, definindo prioridades e se apropriando dos grandes orçamentos. Por isso mesmo, aos trancos e barrancos, o Brasil avança.