Em 1971, Caetano Veloso fez uma canção em homenagem a Lygia Clark. Em “If You Hold a Stone”, ele descreve a sensação ao participar de uma das terapias da grande artista brasileira, segurando uma pedra: “If you feel the wait, you’ll never be late to understand” (Se você sentir a espera, você nunca estará atrasado para entender). Para um brasileiro, impossível não lembrar de Lygia e da melodia de Caetano ao visitar “The Riverbed” (O leito do rio), exposição individual de Yoko Ono, em cartaz em Nova York nas galerias Lelong e Andrea Rosen.

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Em seu mais novo projeto, Yoko apresenta três instalações que envolvem a participação do público, dando sequência a uma linha de trabalho que se prolonga desde os anos 1960, quando ela era a jovem artista conceitual que conheceu e mudou a vida de John Lennon. As três obras atuais são compostas por três frases, ou propostas, oferecidas pela artista ao seu público.

“Stone Piece” dispõe no espaço uma coleção de seixos de rio colhidos pela própria artista e propõe: “Escolha uma Pedra e segure-a até que sua raiva e tristeza tenham ido embora”. Algumas pedras tem inscritas palavras como “lembre”, “sonhe”, “deseje”.

Em “Line Piece”, a artista oferece um carretel de corda, pregos e martelos, e pede ao visitante: “Leve-me ao mais longínquo lugar de nosso planeta, esticando a linha”. O espaço da galeria fica, então desenhado pelas extensões e trajetórias dos territórios pessoais de quem passa por ali.

Mas é em “Mend Piece” (reproduzida abaixo) que Yoko manifesta o ativismo social que marcou seus 50 anos de trabalho e mostra como as questões de natureza pessoal tem sempre um viés universal. Aqui, em uma grande mesa instalada ao lado de um bem-vindo serviço de café expresso, ela espalha cacos de louças quebradas e convida: “Remende com sabedoria, remende com amor. Você irá remendar a Terra, ao mesmo tempo”.