Meses antes de sua prisão, na sexta-feira 8, o narcotraficante mexicano Joaquín Guzmán Loera, conhecido como “El Chapo”, concedeu uma entrevista ao ator americano Sean Penn, publicada na revista Rolling Stone um dia após sua captura. Na conversa, o criminoso usava uma chamativa camisa estampada em tons de azul. A peça se tornou coqueluche na grife que a produz, em Los Angeles, e logo todas as unidades foram vendidas – a marca só conseguirá repor o estoque em fevereiro. O episódio mostra que o mundo pode enxergar sujeitos como “El Chapo” pelo que eles querem ser, homens poderosos com dinheiro e influência, e não pelo que realmente são: bandidos irrecuperáveis e assassinos impiedosos. “Esses criminosos possuem um senso de grandiosidade elevado e um alto poder de convencimento”, diz Antônio Serafim, coordenador do Programa de Psiquiatria e Psicologia Forense do Hospital das Clínicas de São Paulo. E isso é muito ruim. No caso de El Chapo, por exemplo, poucos dos que compraram a camisa azul devem se lembrar que ele admitiu de ter matado duas ou três mil pessoas. E, numa ocasião, mandou executar 13 integrantes da mesma família de agricultores, cujo patrão não pagou as extorsões exigidas pelo cartel. As vitimas incluíam bebês, que foram pegos pelos pés e batidos contra rochas.

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ATRAÇÃO
Abaixo, a atriz Kate del Castillo, que teria mantido uma relação
virtual com o narcotraficante Joaquín Guzmán Loera 

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A mais famosa presa do charme pessoal de “El Chapo” foi a atriz Kate del Castillo, uma das maiores celebridades do México. Em 2012, em meio à caçada nacional ao criminoso, Kate declarou na internet confiar mais nele do que no governo: “Sr. ‘Chapo’, não seria legal se você começasse a traficar com amor? Com curas para doenças, comida para as crianças de rua, álcool para as casas de idosos”, afirmou. “Você seria o herói dos heróis.” Desde então, a atriz caiu nas graças do chefão, que passou a se corresponder com ela. Os dois ficaram cada vez mais próximos, com o bandido prometendo, via mensagens, cuidar mais dela do que de seus “próprios olhos”. Enquanto isso, Kate fazia avançar negociações para transformar a vida de “El Chapo” em história de cinema. Patrocinado pelo criminoso, o filme provavelmente não mostraria a verdade por trás de seu império: propinas, sequestros, torturas e assassinatos.

Em meio ao plano de projetar a imagem de “El Chapo” a patamares hollywoodianos, a atriz armou a entrevista do criminoso com Sean Penn, o que fez as camisas azuis venderem como água. Ironicamente, foi a tentativa do traficante de glamourizar a si próprio que o levou à prisão. De acordo com as autoridades mexicanas, suas conversas com as duas celebridades foram monitoradas e ajudaram militares do país a encontrá-lo. 

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