George Lucas é brasileiro. Se não é, deveria ser. Onde mais, além do fundo de sua alma criativa e de Brasília, o cineasta americano poderia encontrar tantos personagens bizarros, corruptos, mentirosos e ávidos pelo poder para povoar as tramas sórdidas de Guerra nas Estrelas? No set de Brazil Wars, Brasília é uma espécie de Mos Eisley, um antro de vigaristas onde o mestre Obi-Wan Kenobi contrata Han Solo, um contrabandista espacial, para levar o jovem Luke Skywalker ao encontro da Princesa Leia, a bordo da Millennium Falcon, a lata velha mais rápida do universo. “Você nunca encontrará um covil mais cheio de escória e vilania. Precisamos tomar cuidado”, alerta Kenobi ao chegar a Mos Eisley.

Na saga maniqueísta de George Lucas, a eterna luta entre o bem e o mal é repleta de heróis e vilões, mas o conceito de bondade e maldade também depende do ponto de vista de cada um. A ética duvidosa dos sabres de luz serve a dois mestres ao mesmo tempo e corta cabeças em duelos mortais e sem sangue, ora em nome de uma democracia que não funciona mais, ora em função de um projeto de ditadura universal. Em sua sede de poder, o ingênuo jedi Anakim Skywalker se transforma no temido Darth Vader, o braço direito do Imperador Palpatine, um senador que usa o lado sombrio da Força e uma rede de burocratas, empresários e políticos corruptos de diversos sistemas para destruir a República Galáctica. O filho de Vader, o rebelde sonhador Luke Skywalker, sente a bondade remanescente no pai e utiliza essa contradição para matar o Imperador e restaurar a democracia. Obviamente, nada é tão simples e somente a morte pode redimir o lorde mascarado – ou não, como as legiões de fãs começaram a descobrir no planeta Terra desde a semana passada em Star Wars Episódio VII – O Despertar da Força.

Aqui, a triste estreia de Brazil Wars, Episódio 7 x 1 – O Despertar do Impeachment, tem atraído multidões nas redes sociais e nas ruas. Indignadas com as revelações da Lava Jato, da Zelotes e de outras operações contra o desvio de dinheiro público, mais de 40 mil pessoas protestaram nas avenidas contra Dilma, Lula, PT e Cia. no domingo retrasado e mais de 50 mil saíram de casa para defender o governo na quarta-feira 16. São números pequenos diante da tragédia política e econômica que envolve os muitos lados dessa guerra tupiniquim, em que bilhões e bilhões de reais desviados dos cofres das estatais desembocaram em uma crise que está ceifando milhões e milhões de empregos.

Sem saber mais para onde atirar, nem como governar, a Estrela da Morte de Dilma perdeu o controle das contas do governo e atingiu em cheio os sonhos de consumo e de justiça dos brasileiros, sonhos dizimados cada vez mais pela regressão social em curso. A classe média, que cresceu e prosperou no governo Lula, deve encolher muito com a depressão da economia. O deputado e palhaço Tiririca, nosso Jar Jar Binks do Congresso, estava errado: pior do que está, fica. A desconfiança voltou ao set de filmagem, paralisando investimentos e a geração de empregos.

A agência Fitch rebaixou a nota de crédito e devolveu o Brasil ao grupo de países considerados caloteiros. Na linguagem do mercado financeiro, voltamos a Mos Eisley.

Como diria mestre Yoda, “difícil prever o futuro é”. Com seus sabres de escuridão, Lorde Cunha e a Rainha Dilma duelam para ver quem corta primeiro o mandato do outro. Lulinha Skywalker ainda acredita na bondade de Darth Lula, mas ambos têm de lutar contra o incansável General Moro e seu exército de clones. Será que essa República tem salvação?