A gravação em áudio produzida por Bernardo Cerveró para detonar o plano que vinha sendo articulado para evitar a delação premiada do pai, Nestor Cerveró, antecipa trechos da colaboração que o ex-diretor internacional da Petrobras tem prestado ao Ministério Público Federal – o acordo foi firmado na quarta-feira 18. Ao longo de pouco mais de uma hora e meia de conversa, os interlocutores falam sobre negócios escusos envolvendo a estatal. Um deles, em especial, tira o sono do Palácio do Planalto: a aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas. Nos diálogos, há uma referência desairosa a presidente Dilma Rousseff. “Dilma sabia de tudo de Pasadena. Ela me cobrava diretamente. Pá Pá Pá. Fiz várias reuniões”, diz um trecho da minuta da delação de Cerveró lido pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS). Ou seja, Cerveró diz que Dilma não apenas sabia como acompanhou diligentemene a negociação da refinaria. A compra de Pasadena é considerada um dos negócios mais desastrosos da Petrobras e foi firmado em 2006, quando Dilma presidia o Conselho de Administração da estatal. A versão de Cerveró apresentada ao MPF contesta a versão do Palácio do Planalto de que Dilma e outros integrantes do colegiado não teriam tido acesso a todos os dados sobre Pasadena, antes da tomada de decisão.

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A VERSÃO PALACIANA
Ao aprovar a compra de Pasadena, Dilma disse que se
embasou em parecer ‘técnico e juridicamente falho’

O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que houve prejuízo de quase US$ 800 milhões para a Petrobras com a aquisição do empreendimento, e punições até mesmo para conselheiros daquele período não estão descartadas. Há cerca de duas semanas, chegou a se cogitar no tribunal a possibilidade de pedir aos membros do Conselho de Administração da época a indisponabilidade de seus bens, inclusive de Dilma. Até aqui, de acordo com as investigações da Operação Lava Jato, fortes são os indícios de que a transação milionária foi realizada por razões políticas. Segundo a apuração, com base em recentes delações premiadas, Pasadena foi comprada exclusivamente para saldar “compromissos políticos” do ex-presidente da estatal Sérgio Gabrielli – algo que ele nega. Cerveró vai reforçar essa tese. Na contabilidade da propina aparecem distribuídos US$ 15 milhões, dinheiro que beneficiou o ex-diretor, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, e outros executivos da estatal. Cerveró antecipou aos procuradores da República que o negócio ajudaria a saldar contas eleitorais de 2006 do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o PT nega. Chegou a ser articulado um contrato de até US$ 4 bilhões para modernizar a refinaria.

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No áudio entregue por Bernardo Cerveró à Procuradoria-Geral da República, há também um trecho em que Delcídio demonstra preocupação com referência a seu nome nos papéis atribuídos ao ex-diretor internacional: “Aí, embaixo ele (Cerveró) coloca assim: não recebido os dois milhões e meio. Doei um milhão e meio para o Delcídio”. “Doou em que condição? Como é que foi?”, pergunta o parlamentar ao advogado Edson Ribeiro, defensor de Cerveró. Seria uma referência aos US$ 2,5 milhões que o ex-diretor internacional teria embolsado pela compra de Pasadena. Em março, o senador petista havia ficado de fora da lista de políticos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deveriam ser investigados na Lava Jato. Agora, passa a integrá-la. Por duas razões: a operação criminosa relacionada à delação de Cerveró e a suspeita de ser beneficiário de propina.

Foto: Pedro Ladeira/Folhapress 

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