A construção impressiona. Em formato oval, com cerca de 8 metros quadrados, tem dois cômodos. Logo na entrada, na sala, há um oratório com duas imagens de santos. Depois vem o quarto, onde um pedaço de madeira e panos velhos fazem as vezes de cama. Um sistema impede que a água da chuva entre na casa-buraco, mas permite que ela seja reaproveitada. A cozinha fica do lado de fora, com utensílios rudimentares e alimentos como pequi e pimenta. Mas o espanto maior se dá quando surge o dono da propriedade rural, em Nova Roma, no norte de Goiás. Com uma aparência que lembra os “homens das cavernas”, Antonio Francisco Calado, 57 anos, vive há 25 anos nesta espécie de buraco, que ele mesmo, engenhosamente, cavou e construiu.

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FLAGRA
O ‘homem do buraco’ recebeu a visita de um juiz na
terça-feira 27, que foi checar suas condições

O isolamento de Calado, que é chamado de “homem do buraco”, foi quebrado pelo juiz Everton Pereira Santos na terça-feira 27. A irmã e curadora Raimunda Tereza Calado havia entrado na Justiça para provar que o senhor das cavernas era incapaz e não poderia ter acesso às pensões dos pais, já mortos. Foi marcada uma audiência, mas o ermitão não compareceu e o magistrado, responsável pela comarca de Iaciara, foi obrigado a se deslocar 50 quilômetros de carro e mais 1 quilômetro a pé para checar as condições do isolado.  “É uma situação muito peculiar, indescritível. Ao mesmo tempo em que ele aparenta ter muita inteligência para usar técnicas na construção do buraco e manusear ferramentas, demonstra aparentes delírios, dizendo que conversa com os raios e trovões”, disse Santos.

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TÉCNICA
A moradia no norte de Goiás: dois cômodos, com direito a oratório

Segundo Raimunda, o irmão é muito arredio. Para se dar bem com Calado, é preciso seguir algumas regras – não pedir para ele tomar banho e trocar de roupa e, o mais importante, não insistir para que ele saia de lá. Em perícia, o homem das cavernas foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide. O juiz decidiu que ele deveria receber as duas pensões, cada uma no valor de um salário mínimo. E R$ 70 mil retroativos. Como é incapaz, a irmã vai administrar os benefícios. Segundo Santos, ela será monitorada para fazer bom uso do recurso.

Foto: DIVULGAÇÃO/TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS