Depois das diatribes de Eduardo Cunha e das artimanhas de Renan Calheiros só faltava essa no Congresso. Na noite da terça-feira 27, usando o microfone instalado no plenário da Câmara, o deputado acriano Sibá Machado, líder do PT, se dirigiu aos berros, de dedo em riste, à cerca de 30 manifestantes pró-impeachment que ocupavam a galeria: “Eu vou juntar gente e vou botar vocês para correr daqui de frente do Congresso. Bando de vagabundos. Vocês são vagabundos. Vamos para o pau com vocês agora”. Com o destempero, o deputado brigão agrediu ao mesmo tempo a liberdade de expressão e o regimento interno da Casa, protagonizando uma flagrante quebra de decoro parlamentar. O caso, mais policial ou psiquiátrico do que político, revela porque a bancada petista não suporta mais o próprio líder e já trama por sua substituição. Na tentativa de defender o governo de Dilma Rousseff a qualquer preço, Sibá tem demonstrado em seguidas trapalhadas que não tem a menor condição de comandar os deputados do partido. Quando não parte para a agressão covarde como a da terça-feira, costuma lançar mão de argumentos tão absurdos que inviabilizam qualquer diálogo político tanto com aliados como com a oposição.

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TERÇA-FEIRA 27
Militantes do Movimento Brasil Livre pedem a saída de Dilma.
O deputado Sibá Machado reage com xingamentos e ameaças

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Em março, por exemplo, às vésperas das manifestações que levaram milhares brasileiros às ruas em diversas capitais para protestarem contra o governo, Siba, já na condição de líder, creditou a organização do movimento e a baixa popularidade da presidente a ações da CIA, o serviço de inteligência dos EUA, que, segundo ele, teria interesse em desestabilizar politicamente a América do Sul. A teoria conspiratória chegou a ser exposta em uma reunião no Palácio do Planalto, exatamente quando auxiliares da presidente discutiam como tratar as manifestações e virou motivo de piada até mesmo entre parlamentares da base aliada. “Agora chegou o momento de dar um basta! Não é possível carregar um líder com esse tipo de comportamento”, disse na tarde da quinta-feira 19 um deputado petista da bancada paulista, que estava no plenário quando o líder petista disparou contra a galeria.

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PROTESTO
Os ataques do deputado elevou a tensão entre os manifestantes
que ocupam a porta do Congresso 

A ameaça de Sibá aos manifestantes ligados ao Movimento Brasil Livre aumentou a animosidade dos militantes pró-impeachment que se encontram na porta do Congresso e a base governista. Ela se deu na semana que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, recebeu da área técnica do parlamento um parecer dizendo que há sustentação para que o pedido de impeachment de Dilma apresentado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior seja aceito. No dia seguinte, depois de acertar com líderes do governo, Cunha, revogou a polêmica questão de ordem sobre o rito do impeachment que tramita no STF e chamou para si a responsabilidade de dar ou não andamento ao processo que pode levar ao afastamento de Dilma. Os fatos mostram que além de não liderar a bancada, Siba está por fora das negociações que vem sendo feitas pelo Planalto.

Fotos: GUSTAVO LIMA, Reprodução