Filmes sobre tragédias reais chegam aos cinemas com uma grande vantagem em relação a aventuras saídas da ficção. Enquanto as obras em geral têm quase sempre de começar do zero a sua busca pelo público, as produções baseadas em fatos nascem com as plateias já formadas pelos livros de história ou pelo noticiário.

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QUEDA E ASCENSÃO
Antonio Banderas como Mario Sepulveda, um dos 33 trabalhadores
que se tornaram símbolo mundial de persistência e fé

“Os 33”, que chega aos cinemas brasileiros na quinta-feira 29, com Antonio Banderas e Rodrigo Santoro à frente do elenco, se enquadra no segundo caso. Baseado no incidente que manteve um grupo de mineiros soterrados por 69 dias a 700 metros da superfície do deserto do Atacama, no Chile, o longa-metragem dirigido por Patricia Riggen refaz o salvamento acompanhado por mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo pelos mais acessados canais de notícia.

Em agosto de 2005, uma rocha de quase 1 milhão de toneladas despencou sobre o acesso à mina de San Jose, em Copiapó, vedando a comunicação com o local onde trabalhavam 33 homens. Organizados, eles fizeram um pacto de silêncio de 17 dias, racionaram a comida prevista para 72 horas e improvisaram um esquema de convivência entre si e de comunicação com o exterior que garantiu a sobrevivência e possibilitou um salvamento desacreditado por muitos. No filme, o então ministro da energia, Laurence Golborne, vivido por Santoro é um dos raros a apostar na possibilidade de resgate.

Um dos momentos comoventes é a descoberta do bilhete içado com os dizeres “Estamos bien en el refugio. Los 33”, sinal para o mundo de que os trabalhadres ainda estavam vivos depois de quase três semanas de silêncio.

A principal fonte para o roteiro de Mikko Alanne, Craig Borten (“Clube de Compras Dallas”) e Michael Thomas (“O Dublê do Diabo”) foi o livro do jornalista Hector Tobar – que centra foco no que ocorreu durante a prisão subterrânea até o resgate de cada um dos mineiros, um a um, em uma operação ininterrupta que levou a audiência dos jornais para o topo.

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Desde a divulgação do bilhete – ainda sob a terra – os mineiros de San Jose reivindicaram o direito de autoria e divulgação do escrito de sete palavras. Tobar foi uma escolha do grupo e toda a montagem do longa passou pela aprovação dos profissionais, que têm participação
na bilheteria do filme já em cartaz em outras praças. O título, por exemplo, existia antes da escolha dos produtores, um tipo de seleção que
na época se comparou a um leilão.

Logo depois do resgate, os trabalhadores chilenos receberam centenas de ofertas de ajuda de todo tipo. Ganharam dinheiro, viagens pelo mundo, casas e outros agrados. Um dos donatários, o empresário chileno de mineração Leonardo Farkas, teria desembolsado milhares de dólares em contribuições para o bem-estar dos 33 herois. Assim como o governo chileno se empenhou no salvamento sob a pressão das câmeras internacionais, empresários como Steve Jobs se fizeram notar no pós-resgate, enviando seus produtos para os sobreviventes. Alguns desses contribuintes depois se arrependeram, acusando os trabalhadores de extorsão, como Farkas, que um ano depois do salvamento disse ter sido pressionado por beneficiados, que teriam usado a mídia para ganhar casas mais luxuosas do que as que ele estava oferecendo.

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Um ano depois, poucos do grupo voltaram à atividade. A maior parte dos mineiros ainda hoje vive em tratamento psiquiátrico, sob forte medicação. Apenas alguns investiram as doações que receberam no calor que sucedeu os acontecimentos. Um dos diagnósticos dos médicos quando distúrbios como pânico e alcoolismo começaram a tomar conta da vida dos sobreviventes é que não era só o trauma do confinamento, mas também a fama repentina seguida de esquecimento uma das fontes dos quadros de depressão. O filme nem ao menos resvala nessa outra queda. O bilhão de espectadores que o acidente reuniu em 2010, afinal, se entusiasmou com a cobertura ao vivo do nascimento de herois e não da sua decadência. 


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