"Moda não é algo que existe apenas em roupas. Moda está no céu, nas ruas, tem a ver com ideias, com o modo como vivemos e com o que está acontecendo.” A frase da estilista Gabrielle “Coco” Chanel (1883-1971) continua atual, mas poderia ser acrescida de uma afirmação: moda também é arte, e, como tal, merece um espaço nos museus e galerias mais consagrados do mundo. Desde 13 de outubro, a Saatchi Gallery, prestigiada galeria de arte de Londres, sedia a exposição “Mademoiselle Privé”, que propõe uma imersão no universo artístico de Chanel. Em exibição estão vestidos de alta-costura assinados pela estilista, fotografias de celebridades trajando peças da maison e uma série de jóias exclusivas criadas por Chanel nos anos 1930. A mostra é mais uma iniciativa que reforça a tendência de transportar o trabalho de grifes e estilistas para espaços de exposição no mundo todo, incluindo no Brasil.

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A noção de que a moda contemporânea poderia ocupar museus e galerias de arte ganhou fôlego no final do século XX, como explica João Braga, professor de História da Moda na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo. “Conforme a moda foi conquistando credibilidade e status, ela se tornou mais próxima das artes visuais e passou a tomar o espaço museológico”, diz Braga. “Em abril deste ano, por exemplo, apenas em Paris havia cinco exposições dedicadas à moda”, afirma. A frequência cada vez maior dessas mostras se deve ao sucesso de público que algumas delas alcançaram no passado recente. Em 2011, a exibição “Alexander McQueen: Savage Beauty” se tornou a exposição de moda mais vista da história do Metropolitan Museum of Art (MET) de Nova York, atingindo a marca de 700 mil visitantes em três meses. Para atender a todos aqueles que desejavam ver de perto as criações do estilista britânico, o museu permaneceu aberto até a meia-noite no último fim de semana de exibição, algo inédito até então.

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Aqui no Brasil, alguns estilistas também foram objeto de mostras em centros culturais. Em 2012, a exposição “Caderno de Roupas, Memórias e Croquis” exibiu o processo criativo do mineiro Ronaldo Fraga. Já em 2014, a vida e a obra da estilista Zuzu Angel (1921-1976) foram contempladas na mostra “Ocupação Zuzu Angel”, no Itaú Cultural, em São Paulo. Agora, desde 23 de outubro, o Museu de Arte de São Paulo (MASP) sedia a exibição “Arte na Moda: Coleção MASP Rhodia”. É a primeira vez que a instituição expõe ao público seu acervo com 79 peças doadas pela Rhodia, indústria química francesa, em 1972.

Além de trazer visibilidade para as grifes e estilistas, as exposições de moda permitem que o público em geral tenha acesso a peças que jamais poderia ver pessoalmente de outra maneira. “Os museus e galerias de arte têm o compromisso de democratizar objetos artísticos e históricos. E essa é a principal função das exibições de moda”, diz Braga. Afinal, como também disse Chanel, “moda não é moda se não atinge as ruas. A moda que permanece no salão não tem mais relevância do que uma fantasia.”

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Fotos: NIKLAS HALLE’N/AFP PHOTO; Divulgação 


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