Em meio às investigações do esquema do Petrolão, o País assistiu na sexta-feira 23 ao desenlace do que era considerado até recentemente o principal escândalo de corrupção da era petista no poder, o mensalão. O último capítulo consistiu na extradição pela Itália do ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. Condenado a 12 anos de cadeia por corrupção passiva, desvio e lavagem de dinheiro, Pizzolato chegou por volta das 10h20 ao Complexo da Papuda, em Brasília, onde ocupará uma das celas da Ala da Polícia Federal, na mesma ala onde ficaram os outros presos federais do mensalão. Estará ao lado de três detentos, considerados de pouca periculosidade. Antes de ser levado pela PF ao presídio, passou por exames no Instituto Médico Legal. Ao dar entrada na penitenciária, ele vestia calça de malha azul e jaqueta branca, mesma roupa usada na viagem, mas não estava algemado.

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PRESO-PROBLEMA
A volta de Henrique Pizzolato, que chegou na
sexta-feira 23 à Papuda, em Brasília, estremece o PT

O retorno de Pizzolato não era exatamente um desejo do governo brasileiro, que nos bastidores fez de tudo para evitar a extradição. Para o PT, Pizzolato é sem dúvida um preso-problema.

Além de remeter ao escândalo que os petistas querem ver esquecido, por envolver cabeças coroadas do partido, a presença do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil no País pode gerar um constrangimento para o Palácio do Planalto. Na avaliação de auxiliares da presidente, a transferência do mensaleiro deve reativar as pressões exercidas pelas autoridades italianas para a extradição de Cesare Battisti, ex-ativista italiano que vive hoje de forma modesta no Castelo, região central do Rio de Janeiro, cidade onde foi detido em 2007. Em um apartamento emprestado, cuja mobília se resume a uma escrivaninha, Battisti se mantém hoje com o dinheiro arrecadado por uma rede de apoio.

Pizzolato foi entregue à Polícia Federal brasileira pela Polícia Judiciária da Itália, em Milão, no final da tarde de quinta-feira 22. O voo para Brasília saiu com um atraso de quase duas horas. Durante o trajeto, o ex-gerente de marketing do BB foi vaiado por algumas pessoas em dois momentos, no embarque na Itália e no desembarque em São Paulo. Após os demais passageiros deixarem a aeronave, ele desembarcou pela porta dos fundos do avião.

A transferência é consumada após longa disputa judicial entre Brasil e Itália. Pizzolato fugiu em novembro de 2013, usando o passaporte de um irmão morto. Assim que a PF soube da fuga, ainda em novembro daquele ano, o nome dele foi incluído na lista de procurados internacionais, conhecida como difusão vermelha, da Interpol. Três meses depois, a Polícia Federal, em conjunto com a polícia italiana, localizou-o no norte do país. No dia 5 de fevereiro de 2014, ele foi preso em Maranello por porte de documento falso. Estava escondido na casa de um sobrinho. O ex-diretor do Banco do Brasil chegou a ser solto em outubro de 2014 pela Justiça da Itália. Em fevereiro deste ano, após recurso apresentado pelo Brasil, finalmente a extradição foi autorizada e Pizzolato retornou à prisão. No dia 24 de abril, a Justiça daquele país reafirmou a decisão de extraditá-lo ao Brasil.

Na tentativa de evitar a extradição, Andrea Haas, mulher de Pizzolato, ainda fez na quarta-feira 22 um último apelo em uma carta aberta ao ministro da Justiça da Itália, Andrea Orlando. No texto, publicado pelo jornal Il Manifesto, ela afirmou que as prisões brasileiras são um perigo não apenas para os detentos, mas também para suas famílias. Não surtiu efeito. A dolce vita na Itália ficará apenas nas reminiscências do mensaleiro foragido.

A fuga e a prisão do mensaleiro

Condenado a 12 anos e 7 meses de prisão pelo STF por seu envolvimento com o esquema do mensalão, Pizzolato havia fugido do Brasil para a Itália em novembro de 2013 usando o passaporte de um irmão morto.

Assim que a PF soube da fuga, o nome dele foi incluído na lista de procurados internacionais, conhecida como difusão vermelha, da Interpol. Três meses depois, a PF encontrou Pizzolato no norte da Itália. No dia 5 de fevereiro de 2014, ele foi preso em Maranello.

Em 2003 e 2004, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil autorizou o repasse de R$ 73,8 milhões que a instituição tinha no fundo Visanet para a DNA, agência de publicidade de Marcos Valério que tinha contrato com o BB e foi usada para distribuir dinheiro a políticos.

Foto: Pedro Ladeira/Folhapress