Morreu, virou santo. Eis um caso de morte, no entanto, no qual esse compreensível e generoso sentimento humano fica difícil de se fazer valer: faleceu aos 83 anos em Brasília, na quinta-feira 15, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ele chefiou em São Paulo o DOI-Codi do II Exército no período da ditadura militar em que mais se torturou e se matou opositores do regime. Ustra destacou-se, segundo ex-presos como o vereador paulista Gilberto Natalini, pela crueldade nos interrogatórios: “Eu sei o que foi passar pelas mãos dele. Tomei tanto choque elétrico que tive lesões nos ouvidos”. O vereador acrescenta que, médico que é, “nunca fica feliz quando alguém morre”, mas como “torturado” lamenta que Ustra “não tenha sido punido por seus crimes”. A Comissão Nacional da Verdade, que listou 377 mortos e desaparecidos, atribui a Ustra cerca de 50 casos. Apesar de ter sido julgado e condenado, morreu impune em razão da Lei da Anistia.