No Brasil e no exterior, os cerca de 8,5 mil quilômetros da costa brasileira costumam ser citados como exemplo das dimensões continentais do País. A extensão marítima serviu de justificativa para a formação de um ambiente de desenvolvimento da indústria local de embarcações. Na última década, uma nova fronteira se somou para a atração de investimentos no setor: a exploração de petróleo, impulsionada pelo potencial do pré-sal. O período é classificado como o renascimento da indústria nacional de construção naval. Em boa parte, a rede de estaleiros nacionais serve hoje para atender toda a cadeia de petróleo, desde as estruturas de grande porte (plataformas e navios de exploração) até as embarcações médias, de apoio às atividades em alto-mar. Nesta, o potencial é de cerca de 150 novas encomendas até 2020, demanda a ser atendida pelos 23 estaleiros médios do País. A quase bicentenária Wilson Sons, criada por imigrantes escoceses na Bahia, em 1837, integra o grupo principal das candidatas que deve disputar esses contratos. A empresa finalizou a construção de um novo estaleiro em 2013 para atender as demandas das petroleiras e de suas fornecedoras. “Nós nos especializamos nas embarcações médias e, com o pré-sal, precisávamos ser maiores”, afirma Adalberto Souza, diretor-executivo da Wilson Sons Estaleiros. O executivo reconhece o momento delicado da indústria, com a queda nos preços do petróleo e os impactos da redução de investimentos das principais petroleiras mundiais. “O investimento que fizemos é para daqui 20 anos.” 

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Gigante ao mar: a demanda por embarcações menores deve chegar
a 200 unidades até 2020, o que vai beneficiar estaleiros de médio porte

A conjuntura mais adversa impõe saídas criativas. Uma delas é aproveitar a desvalorização cambial para abocanhar contratos internacionais. Com a queda nos custos de produção, a Wilson Sons conquistou uma vantagem competitiva sobre a concorrência no mercado externo: uma embarcação que custava US$ 100 milhões no ano passado é oferecida, hoje, por US$ 70 milhões. Outra opção é diversificar. A companhia estuda iniciar a produção de navios de cabotagem e embarcações usadas para transportes de mercadorias de grandes portos para outros destinos menores. “Temos muitas áreas navegáveis no Brasil que ainda precisam ser exploradas”, afirma Souza. A empresa já produz rebocadores para alimentar outra unidade do grupo, que está dividido em três áreas: terminais portuários, rebocagem e estaleiros. O objetivo é manter ativos os dois estaleiros, no Guarujá (SP), que têm capacidade para processar cerca de 10 mil toneladas de aço por ano e podem atender a demanda de dez fornecedores do entorno.

Um dos desafios é conseguir ampliar o nível de nacionalização das embarcações, que pode determinar a preferência para a contratação no Brasil, e a aplicação de tecnologia embarcada. Apesar dos 13 pedidos em carteira, o negócio de estaleiros ainda representa uma pequena parcela do faturamento de US$ 305,5 milhões (primeiro semestre) da Wilson Sons. A maior parte da receita ainda está nos negócios de rebocagem e agenciamento, áreas tradicionais da companhia.

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Navegação: a construção de embarcações de menor porte abrem um
caminho para a Wilson Sons pouco explorado pelos maiores estaleiros

As seis divisões do Grupo ajudam a enfrentar com mais resistência o período de maior ociosidade na construção naval. Trata-se de uma vantagem que os 13 estaleiros brasileiros de maior porte não têm. Para esse grupo, a saída para atenuar o momento de menor demanda precisa ser o mercado internacional. A Sete Brasil ilustra a dificuldade nos grandes estaleiros. Criada para explorar o negócio de sondas no País, sua única cliente era a Petrobras, que reduziu de 29 para 19 o total das encomendas. Com dificuldades para se financiar, a Sete Brasil não consegue pagar seus fornecedores.

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De olho no longo prazo, o setor ainda atrai interessados. A coreana Sembcorp Marine instalou o estaleiro Jurong Aracruz, no Espírito Santo. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore, dez dos maiores fundos soberanos de investimento sinalizam ter interesse pelo setor.

 Enquanto a indústria de petróleo sofre com a queda nas cotações mundiais, o agronegócio desponta como terreno fértil para os estaleiros voltados à navegação fluvial. Levantamento do Sinaval estima em 148 encomendas a demanda atual dos quatro produtores do segmento, como as gigantes do campo Cargill e Bunge, que estão em busca de escoar a produção de grãos pelas águas. Como a oscilação da maré, os altos e baixos da construção naval são comuns. Mas, o que é consenso entre todos, é o caráter estratégico do setor.

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Fotos: Divulgação


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