Dos tempos longínquos de dom Pedro II até hoje, governantes recorreram à crença das populações ribeirinhas do rio São Francisco para fazer política. Pregaram a transposição do "Velho Chico" como arma de convencimento, numa pescaria enganosa que fisgou apoios estratégicos entre os sedentos por mudança. Lula, o mandatário da vez, ergueu a bandeira da transposição como prioridade logo que assumiu. Lá se vão quase oito anos, duas eleições, alguns ministros, muita reunião e pouco efeito prático. Do monumental projeto que previa mais de dois mil quilômetros de canais condutores de água, irrigando cinco Estados no semiárido nordestino, registramse menos de 16% das obras executadas. O cronograma está dezenas de meses atrasado.

Os recursos são pífios. Em 2009, apenas 3,68% do orçamento previsto de R$ 1,68 bilhão para um dos trechos foi efetivamente pago. No ano anterior, com eleições municipais, o caixa do Tesouro liberou 7% do desembolso planejado. O resto ficou na promessa. Mesmo assim, Lula voltou às suas margens como o escolhido.

A demagogia misturada ao oportunismo político e a esperança obstinada de um povo sofrido geraram o pantanoso mar de crendices no "Velho Chico". Lula esteve ali para saciar a sede por mais prestígio e adesão. Não é novidade. Repete o trajeto sempre que necessita angariar incautos para a torrente de votos. Detém naquela imensa bacia seu curral eleitoral. Por isso não hesitou em passar três dias entre acampamentos e palanques, em campanha aberta, ferindo a legislação, sem protestos de opositores. Todos temem ir contra a correnteza de popularidade do pregador. É o Lula que, do alto de uma aprovação de 69%, tudo pode, tudo quer.

O Lula redentor dos pobres e oprimidos, que transgride usando dinheiro público para atender a fins partidários. Na caravana, levou a escolhida Dilma. Deu-lhe um banho de povo, como um ritual de batismo eleitoral. Oito governadores, quatro ministros, dezenas de deputados e senadores embarcaram na caravana com o mesmo propósito de jogar a rede. Reza a lenda que a todos as caudalosas águas do "Velho Chico" sacia.